LATINORUM
1. Volto a um assunto que tratei em crônicas pretéritas e mais abaixo digo porquê. Volto a falar sobre o latim, lamentando, mais uma vez, que esse idioma tão rico e tão belo tenha sido enxotado dos currículos escolares.
2. Numa dessas crônicas, apontei o latim como o imorredouro xodó dos ex-seminaristas, eu um deles. Na oportunidade, recordei que, no meu seminário (foto), exempli gratia, estudava-se latim de manhã, de tarde e de noite.
3. Era um latinorum só. Quando não éramos nós, os alunos, decorando as declinações, eram os frades (franciscanos) rezando, em voz alta, nos seus Breviários. Outra coisa interessante: batia-se na porta da cela e o frade procurado atendia com um sonoro "Ave Maria!". E a resposta? "Gratia plena".
4. Abria-se o ano letivo com as famosas Lectio-brevis. Hora de cada professor se apresentar e falar sobre a matéria que deveria ensinar. O professor de latim era o mais aguardado. Alguns deles, lembro-me bem, provocavam calafrios!
5. Tinha-se aulas magníficas lecionadas por frades eruditos sobre "As Catilinárias", discursos de Marco Túlio Cícero, advogado, filósofo, político romano, pronuncidos em 63 a.C. E sobre a "De Bello Gallico", relatos do Imperador Júlio César, a respeito das "operações militares" durante as Guerras da Gália, ele, Júlio, o vencedor.
6. Desde cedo, apredia-se a rezar em latim. A "Ave Maria", por exemplo. Inda me lembro dessa oração mariana: "Ave Maria! gratia plena/Dominus tecum/ Benedicta tu in mulieribus,/ et benedictus fructus ventris tui, Jesus. == Sancta Maria, mater Dei,/ Ora pro nobis pecatoribus,/ Nunc et in hora mortis nostrae. Amen".
7 A missa ainda era rezada em latim. Alguns alunos aguardavam, piedosos, o momento de ouvirem do celebante a consagradora declaração: "Hoc est enim Corpus meum". Outros, mais apressados, esperavam, sôfregos, o "Ite missa est" - A missa está terminada. A resposta? Um sonoroso "Deo gratias!".
8. Voltei a contar esta história, com acentuado viés nostálgico, porque acabo de comprar a Quarta Edição do "Dicionário de Máximas e Expressões em Latim". E não foi num Sebo qualquer escondido numa esquina qualquer; como um livro rejeitado por seu dono. Não, não foi.
9. Comprei-o na Saraiva, em uma de minhas demoradas garimpagens nas suas prateleiras. De primeira, na contracapa, descobri duas expressões latinas que usei e abusei ao longo de minha vida, agora, com muitos quilômetros rodados.
10. A primeira eu usava quando pretendia justificar erros cometidos no exercício de minhas atividades profissionais, a maioria com a obrigação de resvalar o menos possível. Errava e justificava citando Jerônimo (347-419): "Errare humanum est", ou seja, "Errar é humano". E convencia a todos.
11. A segunda expressão, usei-a em bilhetinhos, cartinhas e declarações amorosas. No auge de uma crise, repetia, com a manha de um apaixonado: olha, fulana, "Omnia vincit amor", ou seja, "O amor vence tudo". E era entendido e perdoado.
12. Pois é. O "Dicionário" devolveu-me expressões que, numa providencial síntese, dizem tudo e mais alguma coisa. Cito algumas. "O tempora o mores"; "In vino veritas"; "Fortes fortuna adjuvat"; "Festina lente"; "Docendo discimus" e "Cogito, ergo sum".
13. E para concluir, três outras expressões que uso constantemente, sem querer ser esnobe. Acho-as significativas, e, ditas em latim, muito bonitas. Ei-las: "Amicus certus in re incerta cernitur" - "O amigo certo se conhece nas horas incertas".
14. As outras duas: "Ad multos annos" - "Por muitos anos", quando desejo ao amigo mais querido um feliz aniversário.
E "Requiescat in pace" - "Descanse em paz", despedindo-me do amigo que se vai pra nunca mais voltar...
1. Volto a um assunto que tratei em crônicas pretéritas e mais abaixo digo porquê. Volto a falar sobre o latim, lamentando, mais uma vez, que esse idioma tão rico e tão belo tenha sido enxotado dos currículos escolares.
2. Numa dessas crônicas, apontei o latim como o imorredouro xodó dos ex-seminaristas, eu um deles. Na oportunidade, recordei que, no meu seminário (foto), exempli gratia, estudava-se latim de manhã, de tarde e de noite.
3. Era um latinorum só. Quando não éramos nós, os alunos, decorando as declinações, eram os frades (franciscanos) rezando, em voz alta, nos seus Breviários. Outra coisa interessante: batia-se na porta da cela e o frade procurado atendia com um sonoro "Ave Maria!". E a resposta? "Gratia plena".
4. Abria-se o ano letivo com as famosas Lectio-brevis. Hora de cada professor se apresentar e falar sobre a matéria que deveria ensinar. O professor de latim era o mais aguardado. Alguns deles, lembro-me bem, provocavam calafrios!
5. Tinha-se aulas magníficas lecionadas por frades eruditos sobre "As Catilinárias", discursos de Marco Túlio Cícero, advogado, filósofo, político romano, pronuncidos em 63 a.C. E sobre a "De Bello Gallico", relatos do Imperador Júlio César, a respeito das "operações militares" durante as Guerras da Gália, ele, Júlio, o vencedor.
6. Desde cedo, apredia-se a rezar em latim. A "Ave Maria", por exemplo. Inda me lembro dessa oração mariana: "Ave Maria! gratia plena/Dominus tecum/ Benedicta tu in mulieribus,/ et benedictus fructus ventris tui, Jesus. == Sancta Maria, mater Dei,/ Ora pro nobis pecatoribus,/ Nunc et in hora mortis nostrae. Amen".
7 A missa ainda era rezada em latim. Alguns alunos aguardavam, piedosos, o momento de ouvirem do celebante a consagradora declaração: "Hoc est enim Corpus meum". Outros, mais apressados, esperavam, sôfregos, o "Ite missa est" - A missa está terminada. A resposta? Um sonoroso "Deo gratias!".
8. Voltei a contar esta história, com acentuado viés nostálgico, porque acabo de comprar a Quarta Edição do "Dicionário de Máximas e Expressões em Latim". E não foi num Sebo qualquer escondido numa esquina qualquer; como um livro rejeitado por seu dono. Não, não foi.
9. Comprei-o na Saraiva, em uma de minhas demoradas garimpagens nas suas prateleiras. De primeira, na contracapa, descobri duas expressões latinas que usei e abusei ao longo de minha vida, agora, com muitos quilômetros rodados.
10. A primeira eu usava quando pretendia justificar erros cometidos no exercício de minhas atividades profissionais, a maioria com a obrigação de resvalar o menos possível. Errava e justificava citando Jerônimo (347-419): "Errare humanum est", ou seja, "Errar é humano". E convencia a todos.
11. A segunda expressão, usei-a em bilhetinhos, cartinhas e declarações amorosas. No auge de uma crise, repetia, com a manha de um apaixonado: olha, fulana, "Omnia vincit amor", ou seja, "O amor vence tudo". E era entendido e perdoado.
12. Pois é. O "Dicionário" devolveu-me expressões que, numa providencial síntese, dizem tudo e mais alguma coisa. Cito algumas. "O tempora o mores"; "In vino veritas"; "Fortes fortuna adjuvat"; "Festina lente"; "Docendo discimus" e "Cogito, ergo sum".
13. E para concluir, três outras expressões que uso constantemente, sem querer ser esnobe. Acho-as significativas, e, ditas em latim, muito bonitas. Ei-las: "Amicus certus in re incerta cernitur" - "O amigo certo se conhece nas horas incertas".
14. As outras duas: "Ad multos annos" - "Por muitos anos", quando desejo ao amigo mais querido um feliz aniversário.
E "Requiescat in pace" - "Descanse em paz", despedindo-me do amigo que se vai pra nunca mais voltar...