______________O HOMEM-ÁRVORE
 
 
Ele é do terno e gravata, escritório e negócios, mas sua alma é dos livros, da música, das crianças, dos bichos, do silêncio... E das árvores. Assim como existem o Homem de ferro, o Homem-formiga e o Homem-aranha, ele é o Homem-árvore. Não que se transforme em árvore para salvar-se de apuros ou missões perigosas, mas porque transforma o mundo plantando árvores que dão sombra, que dão frutos, que colorem paisagens, que purificam o ar e garantem a vida.

O Homem-árvore é da cidade grande, mas carrega o olhar sobre o verde. Por onde vai, cata sementes, leva sementes, germina sementes que viram árvores — altas ou baixas, grandes ou pequenas. É um semeador. Não raro, o parapeito de suas janelas comportam vasos de mudas, o carro carrega mudas, todo recipiente vira aparo de mudas. São mudas aqui e ali, à espera do plantio, mudas transportadas, replantadas, transplantadas que vão crescendo, florindo, dando verde ao mundo: para plantar é preciso apenas um coração verde e a vontade de ver crescer e florescer.

Observo o Homem-árvore em seus silêncios demorados e contemplativos. Por vezes, conversamos sobre seu assunto preferido: das sucupiras aos baobás, ele sempre tem uma curiosidade para contar. Sabe o nome, as espécies, as origens das árvores pelas quais, nem de longe os olhares desinteressados se interessam. E por onde passa, está sempre atento aos galhos, aos troncos, às flores.

Certa vez, lhe dei uma muda de ipê rosa. Ele a levou para o recanto onde já formou uma pequena mata, semeando sementes e espalhando mudas. Toda vez que vem da cidade grande, ele vai ao encontro de suas companheiras, e ver suas copas avançando rumo aos céus, eu sei, é motivo de silenciosas alegrias. Na última vez em que nos vimos, ele me contou que o ipê rosa está cada vez mais alto e em pouco poderemos apreciá-lo em época de floração. Algo em mim, se rejubila: o ipê cresceu em campo livre e será mais uma atração aos olhos deslumbrados de quem o avistar, coberto em sua rósea roupagem. Que espetáculo, os ipês são sempre um espetáculo!

O Homem-árvore é discreto, reservado, anônimo, ninguém saberá do bem que causa à humanidade. A ele, basta plantar, semear e viver pelo prazer de ver crescer. Enquanto milhares de espécies são derrubadas ou queimadas todos os dias, o Homem-árvore faz mudas, uma a uma, no seu ritmo, ao seu tempo, sem que o desmatamento da Amazônia Legal estimado em 9.762 quilômetros quadrados, segundo dados recentes, seja razão de desânimo para seu ânimo de plantar.

O Homem-árvore esteve em minha casa e achei na bancada da pia um saquinho plástico com favas, reálias colhidas nas imediações. Nas favas, sementes que serão novas árvores num futuro próximo. E com as novas árvores, mais pássaros, mais flores, mais ar, mais frutos, mais sombra, mais sementes, mais vida.

De repente, uma curiosidade: quantas sementes terão plantado durante a vida nossos Ministros, Secretários e ilustres personalidades do Meio Ambiente, que do alto de seus altos cargos administrativos cumulam frondosos salários? Não me assustaria saber que alguns nunca plantaram nada, uma semente sequer. Detêm títulos, diplomas, certificados, mas estão longe, muito longe de terem almas de Homens-árvores. Era disso que a gente precisava, é disso que a gente precisa!