Sangue frio
Nasci no Alto das Almas, aos 15 dias de vida me levaram para morar na rua do cemitério. Antiga rua do pinhão, atual rua da primeiro de maio. Mais exato, tbm na rua Expedicionário Monego, até dizia com orgulho, quando os professores ou alguém me perguntava.
--Onde vc mora?
--Rua Expedicionário Monego!
---Então espere um pouco!
Mas o assunto é cemitério e cortejos fúnebres, olha q me dei por gente, olhando, horas de nível, horas elevado do morro.
Acho q já vi de quase tudo.
Com caixão branco pequeninos e grandes. Com tecido roxo, urna de madeira e até em saco. Este ultimo sem cortejo.
Moleque curioso q fui, até contava quantos acompanhavam na despedida.
com centenas. Outros sob sol escardente, pouco mais q 6.
Triste era e é ver a família chorando. Já vi desmaios. Gritos. Olhares com medo da policia.
Mas tbm já vi boas prosas, sempre saudosistas nas madrugadas de velório.
--Como era boa pessoa...
Vi cortejos noturnos. Desvio por ruelas entre eucaliptos.
De bêbados, quando do retorno do sepultamento. Após. Tomavam uma pinga no primeiro bar. Era um ritual de homenagem. E sempre com uns pingos no chão e estalos nos dedos.
Cortejo ao por do sol. Dava prá ver o defunto devido a transparencia do pobre tecido.
De rico, quando a maioria acompanhava de carro.
Com flores. Sem flores.
Coletivo.
Despedaçado.
Necrópsias.
Montagem em sacos. Etc
Afinal o cemitério era em frente o nosso capinho de futebol.
-- Pessoal. Vamos parar tá vindo defunto!
A bola caia dentro do cemitério, quando dos jogos noturnos, e nós buscavamos sem medo.
Por fim. Há tantos outros causos. Até dos meninos, meus amigos de infância, cujo corpos lá estão.
Ainda sim. Entre cadáveres. Dava levar um flor para casa. Dava tbm para poetar escondido. Poetar era coisa de viadinho.
Do ipê lilás na calçada de frente. E do mês de agosto, quando as cores voltam colorindo e acalentado nossas saudades e a sonhar com o reencontro com muitos, q como dizem.
Descansam em Paz...