Mais respeito e tolerância
Quando comecei a Faculdade de Direito, em 1992, eu possuía uma memória fotográfica fantástica, tudo que lia decorava. O professor de Direito Civil cobrava apresentação de artigo por artigo do Código, lá na frente da sala de aula, como se fossemos professor. Na minha vez de apresentar, disparei o texto que tinha gravado na memória e mandei bala. A aula parecia incrível, mas eu havia decorado trechos de livros de doutrinadores e, quando fui interrompido pelo professor que fez uma alegoria no meio do que eu explanava, perdi o rebolado e suei frio, fiquei confuso, porquanto eu nada sabia sobre o tema, havia decorado o que dizia. Sinceramente, hoje não recordo quase nada. Mas o conceito de posse, me desperta atenção! Eram apresentados os conceitos de dois renomados doutrinadores, Savigny e Ihering. Mas suas teorias, estão relacionadas com o Direito das Coisas. Contudo, pretendo falar um pouco sobre relacionamentos. Não precisa ser nenhum Operador do Direito para compreender que ninguém é proprietário de ninguém. Depois que se observa a vulnerabilidade do Ser Humano. A inexorabilidade da morte. O conceito de posse perde o sentido. Mesmo para a aferição patrimonial das coisas. O Homem não é do Homem. Os sentimentos de tolerância e respeito ganham repercussão geral. Dentro do casamento, do relacionamento. Ninguém sabe quem sobreviverá ao outro. Casais com sessenta anos de casamento. Outros com seis meses. Um não tem a posse do outro. O conceito de posse é inalcançável. Eu só tenho motivos para respeitar. Aquela pessoa não é mais minha. Aliás, aquela pessoa nunca foi minha. Ao mesmo tempo que a amo, a tolero. Numa das comunidade terapêuticas que residi, conheci um moço com problemas com alcoolismo, que sempre dizia que o seu casamento não estava bem, que ele não gostava mais da esposa dele. Estava tomando uma medicação, que mexia com a libido. Eles não separaram. Mas ela não é da posse dele. E ele não é da posse dela. A vida é efêmera, como nos diz, o sábio Dilson Poeta. Nada do que tenho é meu. Nada levarei. Quando passo a entender que o meu parceiro ou a minha parceira não são mais meus, como intuitivamente eu admitia, entra em evidência mais respeito e mais tolerância, alicerces de quaisquer relações. Até porque ninguém é insubstituível. E a capacidade de amar independe da posse.