Em casa de sogro, não se pede nada para comer

Mais um Domingo monótono, cheio de marasmo, calor e rotina. Sigo para a casa do sogro, sujeito baixo, barrigudo e com um humor deveras ácido, aquele tipo de sujeito que brinca e solta farpas de verdade. Decido me arrumar cedo, como de costume, banho frio para suportar o calor, almoço e uma dose de coragem para suportar o tédio e o desejo de me animar um pouco na companhia da namorada.

Chego cedo à casa do sogro, muito solícito ao entrar na residência dou de cara com a avó da minha namorada. Uma senhora simpática, com cheiro de fumo daqueles tradicionais com odor forte. Também encontro a tia da minha companheira, uma mulher madura, também simpática e com o olhar de curiosidade. Percebi que as duas queriam puxar conversa, como não sou muito de conversa, estava rogando por uma oportunidade de ir diretamente falar com minha companheira.

O problema desses domingos é que, na verdade, eles são tediosos, principalmente se você não tem dinheiro para passear e já namora há sete anos, com uma pequena ressalva: apenas consigo me encontrar no Domingo devido a uma rotina de desencontros e de comodismo, as vezes imagino que esse relacionamento é levado com a barriga em passos lentos, me sinto até mal em pensar isso.

Essas tardes de Domingo na casa de meu sogro são recheadas de filmes na Netflix e após isso, algum lanche. O meu sogro não é muito simpático, sempre procura se trancar no quarto para não manter contato com as visitas e as vezes, tem uns rompantes de autoridade e fala na cara o que bem quer, afinal, a casa é dele.

O fato é que, esse Domingo foi um pouco diferente, tenho que admitir, aquela casa sempre me deixa depressivo de alguma forma, seja por uma fala da cunhada, sogra, sogro ou namorada, sempre que saio de lá eu me sinto pra baixo ou com uma pulga atrás da orelha, admito. A pulga desse final de semana em específico foi o fato de pedir mais suco após o lanche. Era um delicioso suco de caju, gelado, que esfriou o meu corpo perante um calor infernal, e eu amo caju, tenho de ser honesto.

Ao pedir por mais suco, escuto do meu sogro: "Tem mijo, aqui não é restaurante não!" Meio em tom de verdade e meio em tom de brincadeira, o fato é que a verdade prevalece sobre a brincadeira e eu acabei descobrindo o quanto inconveniente sou. Na casa dos outros e pedindo as coisas, uma falta de educação, bom senso e requinte sem igual. Isso me doeu bastante, sou o tipo da pessoa que fica sentida com tudo, coloca as coisas na cabeça e passa a refletir sobre o dia, semana e mês inteiro.

Para minha situação ficar mai constrangedora fui consultar minha namorada sobre o ocorrido e ela me deu uma lição de moral e educação, dizendo: "Eu aprendi que, ao estar de visita na casa dos outros, não devemos pedir nada, apenas aceitar ou recusar o que nos é oferecido, você pede as coisas pra mim, tudo bem, acho que o tempo de namoro justifica, mas a casa não é minha, tem meu pai, minha mãe".

Dito isso, apenas prometi que não ocorreria novamente esse trágico fato, e fiquei calado no meu canto de inconveniência e má educação. Eu não tenho jogo de cintura para contornar a situação, sou pragmático ao ponto de ficar envergonhado com essa descrição que ela fez de mim, fiquei com a imagem de uma pessoa inconveniente. Portanto, digo a vocês, em casa de sogro ou sogra, e em nenhum local, pelo máximo de tempo que se conhece a pessoa, é bom evitar pedir as coisas, ou perguntar se tem café, chá. Obviamente que só fiz isso porque me senti a vontade com minha namorada, mas foi um erro, a casa não é dela e isso conta bastante.

Quaresmo
Enviado por Quaresmo em 06/01/2020
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