Fuga

[...]

Duas e meia da madrugada.

Meu telefone chama. Uma, duas, cinco vezes.

O olhar examina o visor. Seu número, como o esperado. O rosto empalidece

E a mão exita, junto às rápidas palpitações, entre atender ou não.

Seis, sete, nove toques. O telefone parou.

{Se você desistiu ou não, não sei. Mas hoje eu não posso voltar atrás. Por mais que o meu coração implore por sua voz carinhosa dizendo que me ama, a razão diz que eu estou certa, que não é para mim, que não sou pra você; e que sofrer faz parte. Ninguém nunca disse que seria fácil te esquecer.}

Sozinha. Entre dezenas de livros, anotações e devaneios, desvio o olhar - já com fundas olheiras e carregado de lágrimas - do telefone. Sirvo-me de mais uma xícara de café, acendo o último cigarro do maço comprado pela manhã. Volto à economia, às estatísticas, aos balanços. O trabalho sempre me traz de volta ao mundo real (ou pelo menos me tira do meu mundinho de sofrimento). Sozinha. E hoje quem ocupa o espaço vazio da cama são meus livros e minha cachorrinha, não você.

O telefone volta a tocar.

Uma, duas... Desligo o aparelho. Apago o cigarro, empurro os papéis para o lado e me deito, baixando a iluminação. A insônia insiste - e eu passo meu tempo lembrando de tudo que vivi, aqui mesmo, com você. De novo aquele calor no coração, nós dois juntos, sem problemas, sem crises, sem empecilhos.

Você me dizendo que não vai embora. Um barulho. Seis horas da manhã. O despertador, lambidas da cachorra. O espaço vazio em seu lado da cama. Frustração. Hora de voltar à ativa. Hora de te esquecer - porque, infelizmente, não deu certo. E cansei de ficar presa aos sonhos.

[...]

Nica
Enviado por Nica em 06/10/2007
Código do texto: T683527
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