Seguir Em Frente
Esses dias eu me deparei com um vídeo que falava a respeito do Naruto, famoso personagem de anime, o vídeo comentava especificamente a estranheza dos fãs quanto a como o personagem está triste nas histórias atuais, um personagem que já fora tudo na obra, menos uma pessoa triste.
Naruto, como qualquer outro personagem de livro, filme, séries, HQs e etc, tinha desde pequeno um objetivo: ser um mestre Hokage; o que em seu universo significava pertencer à categoria mais alta de poder. E ele de fato conseguiu este feito. O problema é que foi o personagem quem alcançou seu objetivo, não a obra, ela continuou, ela seguiu em frente. Por isso era inevitável não aposentar o protagonista, o que mais especificamente falando é dar a ele uma vida onde seus poderes de nada importa, e trazendo para o mundo real quer dizer ter uma esposa, filhos, um trabalho e obrigações medíocres, porém diárias. Hoje, Naruto se depara com o fato de que nada que fizera importa mais, não há inimigos, não há aplicabilidade prática pros seus poderes e aquilo para o qual tanto treinou, de forma bem irônica, se tornou algo pequeno demais para alguém como ele. O personagem se depara com o dilema de ter se tornado o maior de todos, para no fim viver como um homem simplório.
O contrário disso podemos ver em Goku, outro famoso personagem de anime. Este começou desde o início sendo um indivíduo comum, embora pertencente a uma raça alienígena, Goku não era iluminado, não tinha nada em especial em relação aos de sua raça, muito pelo contrário, foi abandonado ainda bebê em outro planeta. Porém, o que realmente o difere do Naruto é que ele sempre desejou ser mais forte, apenas para ser, para superar seus limites, ele não tinha um sonho ou planos futuros, era puro e simples instinto Sayajim. O que resolveria o problema do Naruto é exatamente o que condena a existência do Goku, pois Goku, ao contrário do ninja Hokage, não possui limites de poder, sua busca é instintiva e, por isso, eterna. E esta é uma característica problemática, porque, querendo ou não, ele jamais se sentirá satisfeito na vida. Enquanto o ninja Hokage pôde ao menos sentir o prazer de realizar seu sonho.
Goku não é um bom pai e menos ainda um bom marido, também não consegue ter empregos, pelo simples fato de não poder se limitar a fazer coisas simples. Naruto é um marido ruim e um péssimo pai, não porque esta seja sua índole, mas porque ele passa o dia fazendo coisas simples para suprir a necessidade de coisas grandes. O fato curioso, o fato verdadeiramente curioso, é que uma das reclamações dos fãs de Goku foi quanto sua atual personalidade infantil, despreocupada, irritantemente boba e fútil. Fazendo contraste justamente à imagem triste que é percebida atualmente no Naruto. Isto se deve ao fato de um ter alcançado tanto poder, que se vê obrigado a tomar conta de todos, enquanto o outro, apesar de ser quase um Deus, está preso à obrigação de ficar cada vez mais forte, e assim negligenciando os demais a sua volta. O que une estes dois personagem é o fato de ambos já terem alcançado seus respectivos sonhos, ao ponto de agora estarem vivendo somente para justificá-los.
O que existe depois dos sonhos? O que nos resta após alcançarmos aquilo que nos impulsionou durante a vida inteira? Uma vida comum ou a obrigação de ir além mesmo que isso não nos traga nada? De toda forma, seja qual for a resposta, o resultado é o mesmo; é vida pela vida. É o fato de que, independente de tudo, só nos resta seguir em frente, em frente todas as manhãs, quer isso nos torne mais fúteis, quer nos torne mais tristes, um novo dia amanhece e não adianta o quanto de poder você tenha ou não tenha nas mãos, você não poderá fazer nada a respeito, nada! É como uma xícara que cai e só a assistimos cair. É como perder a pessoa mais importante de nossas vidas e ainda assim termos que seguir como se as coisas continuassem a fazer algum sentido. É como uma bala. Uma pequena e dourada bala indo de encontro a sua cabeça, pondo fim em todas as suas angústias, seus medos, suas perguntas, um fim em todas essas questões meramente humanas. E você não a vê, não fica sabendo, mas ela lhe atravessa e continua seguindo seu rumo, em frente, sempre em frente, até encontrar um derradeiro fim. Como tudo. Tudo...