O Abraço Doido
Eu adoro as histórias de loucos do Suassuna! Ele contava muitos casos sobre os doidos da sua cidade pequenina. Identifico isso bem, porque tanto lá, quanto cá, temos nossos doidos. Hoje, nem sempre de doenças psíquicas na sua gênese, mas pessoas carcomidas pelas drogas e pelo álcool. Mas a história que vou contar é boa! Entro logo cedinho na padaria, na porta, um doido. Conhecidíssimo na cidade. Alto, magro e se não estivesse vestido de indignidade, seria bonito. - Ei, dona, me arranja dez reais pra eu comprar um kg de focinho? Respondi: Vou primeiro comprar o pão, depois lhe arranjo algum. Entrei, comprei, paguei e saí. Ele já estava me vigiando e veio à porta me receber. Eu havia separado um troco para ele, segurando na mão, e lhe passei. Ele, de repente, era só braços querendo me envolver num abraço. Eu fiquei meio sem jeito, e ele disse: - Abraça, dona! Não sabe abraçar não? E eu, já dando risada por causa da cena tão inusitada e um pedido tão descabido, o abracei afetuosamnete. Então, na sequência, ele já perguntando: Posso beijar seu rosto? E eu lhe respondi um "não" bem explicadinho, porque doido não tem limites. - Meu marido não há de gostar! Mas, ele inistiu: Um beijo na cabeça, pode? Eu, já achando que a história ia encompridando demais, pra me ver livre do abraço que não me largava, disse: Pode! Ele beijou e exclamou: - Êta cabelo cheiroso! Dona, ocê é linda demais! E foi largando o abraço e eu largando as risadas pela rua afora...