O LEITÃOZINHO


Não sei precisar que idade eu tinha mas já não era mais criança quando papai ganhou, em uma rifa entre amigos, um leitãozinho vivo.

Não sabíamos o que fazer com ele e como morávamos em casa com terreno grande, papai mandou fazer um chiqueiro, para criá-lo e engordá-lo para abate.

Era tão bonitinho, tinha pelagem cinza com manchas pretas. Ficava preso no chiqueiro e comia os restos de nossas refeições e milho. Eu fui encarregada de levar-lhe a comida e trocar-lhe a água e ficava lá olhando seu comportamento e ouvindo seus grunhidos.

Mas o tempo passou e ele se transformou em um porco adulto, grande e gordo. Papai resolveu que tinha que arranjar alguém para abatê-lo, o que daria um belo estoque de banha, linguiça e carne em nossa despensa. Contratou um açougueiro experiente para fazer o serviço pois ele mesmo não tinha experiência e nem coragem. Naquele tempo, muitas famílias do interior criavam animais para alimentação. Não havia supermercado como hoje em que se compra todo tipo de carne pronta para consumo. Sim, havia açougue mas com um porco em casa esse era o caminho a seguir.

Nunca tínhamos criado porcos na cidade. Mamãe tinha suas galinhas no quintal, eventualmente, patos e marrecos. Não comprávamos ovos, bastava ir buscá-los nos ninhos do galinheiro. Acontece que lá em casa ninguém tinha vocação para matar uma galinha. Destemida e experiente era vovó que se encarregava dessa tarefa funesta. Eu a vi muitas vezes torcer o pescoço da ave, fazer-lhe um corte no mesmo e deixá-la sangrar por um tempo com a cabeça entre as ripas da cerca. Sempre me afetou profundamente esse ato maldoso mas era assim ou não teríamos carne à mesa.

Porém, com o leitãozinho foi muito pior. O homem que papai contratou disse que só faria o serviço lá mesmo, em nossa casa. No dia combinado, mamãe nos levou para a casa de vovó para que não víssemos ou ouvíssemos o animal. Mas a providência foi inócua. A casa de vovó não ficava longe e ouvimos os gritos atormentados do pobrezinho. Consumir sua carne, depois, foi um sacrifício.

Nunca me acostumei com essa crueldade. Sei que hoje há um cuidado grande antes e durante o abate, evitando-se sofrimento e stress desnecessários aos animais.


Entretanto, mesmo com tudo o que vi, nunca vou ser vegetariana ou vegana. Aprecio um bom churrasco!

 
Aloysia
Enviado por Aloysia em 04/01/2020
Reeditado em 05/01/2020
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