A vocação terapêutica do bairro Pacheco
Crônicas XXVIII
Se tem uma coisa que não falha no comércio gonçalense é a venda de paliativos para dores e indisposições. Sim, necessário reconhecer, uma triste constatação. Lucra-se aos montes com analgésicos e outras drogas por aí. Percurso histórico de hipocondríacos enganados ou doentes de fato.
Dia desses, estava eu refletindo sobre o crescimento desordenado das drogarias em São Gonçalo, quando me indaguei sobre o verdadeiro motivo de haver no Pacheco uma família de farmacêuticos importantíssimos. Exato, isso mesmo, a farmácia começou cedo pelas bandas de cá. Mas juro a você, caro leitor, nada de nome homônimo ao da rede famosa, coincidência pra nós, Pacheco é só um bairro. Melhor é esquivar de propagandas por aqui.
Bem, puxando o fio da meada para as pioneiras drogarias, descubro terem sido os herdeiros da família Diaz André os iniciadores na atenção farmacêutica aos moradores desses lados da cidade. Incrível, começo do século XIX, via-se o senhor Augusto Cezario oferecendo alívios aos moradores enfermos. Imagine, um empreendedor espanhol chega ao Brasil por volta de 1930, compra fazenda e seu filho logo se torna um ilustre farmacêutico e cuidador das pessoas do lugar. História de fato. Poucos têm ciência da coisa. Juro a você, eu mesmo fui conferir a fazenda dos tradicionais Diaz André, uma pérola que conserva a tradição gonçalense. Imagine, estudar farmácia e investir na produção de laxantes fitoterápicos e soluções antiespasmódicas. Não acredita? Pois bem, plantavam-se tamarindos, laranjas e muitos outros produtos. As diarreias assolavam a população. E adivinha quem servia de anjo bom com fins de anestesiar as mazelas da malária ou as disenterias usando de administração terapêutica? Sim, acertou, extrato de quina e tintura de ópio — e a fama do senhor Augusto também fez carreira política por aqui. Nunca lhe passou pela cabeça questionar o motivo de tantas ruas do lugar trazerem o sobrenome espanhol no registro? Pense bem, ou melhor, olhe o mapa da internet! Se não encontrar (no mínimo) meia dúzia de plaquinhas de esquina apontando o tal registro familiar de origem hispânica, dou-lhe um doce. Bem, também não é à toa que há escola em homenagem ao ilustre morador.
Enfim, é assim que pegamos a história pelo rabo. Marca-se uma visita ao antigo casarão transformado em salão de festas e perde-se hora e meia dentro do tradicional ônibus Santa Isabel. Não, de jeito algum chamaria isso de perda de tempo. Claro que não. Principalmente se a tarde for dedicada a escutar o simpático herdeiro dos Diaz André e a história do bairro Pacheco. Narrativa oral sobremaneira bacana. E temos aí, em primeira mão, uma crônica escrita para você. Só não vá me dizer agora que São Gonçalo não tem memória.