DANTE DE LAYTANO, UM RETRATO DO RIO GRANDE DO SUL
A primeira vez que tive contato com o excêntrico nome de Dante de Laytano foi quando ainda era um estagiário em inicio de carreira na Casa da Terra de Torres/RS, entre os anos de 2003 e 2004. Vislumbrava curioso um mapa ilustrativo que destacava eventos históricos e um tanto “dantescos” que aconteceram no Rio Grande do Sul de autoria de Laytano. Nome que era recorrente em citações e referências quando se tratava das compilações folclóricas e pesquisas historiográficas rio-grandenses. Assim, conheci o intelectual regionalista de origem italiana Dante de Laytano (1908- 2000) que atuou como docente, escritor, juiz e folclorista, preocupado com a identidade cultural e memória do povo gaúcho. Dentre sua produção longa e profícua entre as décadas de 1930 e 1980, suas obras ficaram marcadas pela rigorosidade metodológica e profundidade de seu pensamento, tornando-se com o tempo, obras fundamentais para a compreensão dos aspectos econômicos e socioculturais das populações platinas. Sua notória atuação pode-se destacar um precioso legado como professor catedrático da UFRGS e na PUC, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RGS, Academia Riograndense de Letras, Comissão Nacional de Folclore e diretor e cronista do jornal Zero Hora. Em 1954, atuou como diretor do Museu Júlio de Castilhos, reorganizando o acervo e dando visibilidade as tradições e expressões culturais. Neste processo surge o Museu de Ciências Naturais e o Museu de Arte Moderna do Rio Grande do Sul. De formação positivista se dedicou ao estudo, pesquisa e compilação das fontes primárias, principalmente os documentos históricos. Quando foi juiz distrital no município de Torres/RS, escreveu uma publicação em homenagem ao centenário da emancipação administrativa e política (1878-1978) intitulada Torres: resumo de sua história de terra e mar. Dedicava-se a analisar a história da Revolução Farroupilha em que resultou na obra a História da República Riograndense (1936). Foi um dos primeiros intelectuais a abordar a presença das populações negras no território do Rio Grande do Sul, em um período em que a historiografia tradicional privilegiava o discurso oficial das classes dominantes. Sua carreira transita entre as crônicas, as pesquisas interdisciplinares entre as temáticas históricas e a valorização dos saberes e expressões folclóricas, costurando os retalhos do povo gaúcho na amálgama de um território singular. Um verdadeiro memorialista que trazia os subsídios do passado para pavimentar o fio condutor do futuro, um erudito que eternizou um retrato do Rio Grande do Sul.
Publicado no Jornal A Folha/Torres.