OS GATOS DA IRACI
No mês passado voltei às minhas origens. Mais precisamente à pequena cidade do interior onde passei minha infância e adolescência. Encontrei pessoas queridas, muitas outras conheci desta vez. Sempre visitava minha amiga Maria Helena mas no final de 2015 ela faleceu.
Fui, então, fazer uma visita à Iraci, amiga e vizinha de muitos anos. Ela, como eu, não é mais jovem. Deve estar pela casa dos setenta. Demos boas risadas rememorando, com saudade, os velhos tempos. A casa de meus pais e a sua eram separadas por um muro baixinho que pulávamos, frequentemente, para nos visitarmos. Era através desse muro que passava sua forma de pão para aproveitar o fogo que mamãe fazia no forno de tijolos e onde ambas assavam seus pães. Também era por ali que passava a carne no espeto que papai assava para ela junto ao nosso churrasco de domingo.
Havia um grande intercâmbio de conversas e também de pães, bolos e assados. Às vezes ela trazia seus quitutes para provarmos. Outras vezes, era mamãe que lhe entregava um mimo, que tanto podia ser um pedaço de cuca ou um vidro de doce de figo feito em casa.
Iraci nunca se casou e hoje vive de uma aposentadoria e dos pratos de doces e salgados que vende na comunidade. Dedica seu carinho a dois gatos, aos quais chama pelos nomes. Seu predileto é o Napoleão, um angorá cinzento, grande, gordo e indolente. O outro é o Lancelot, um persa muito bonito.
Mantemos a amizade de longos anos e é sempre uma alegria revê-la.
Apesar de ser solteira, não me parece solitária, nem triste. Gosta de viajar e conhecer lugares, no Brasil e no exterior. Seus felinos recebem seu afeto e retribuem o cuidado e a atenção que ela lhes dispensa. Há em sua casa uma atmosfera de vida simples e descomplicada. Um equilíbrio que quase não se vê mais no tumulto, no burburinho e na pressa das grandes cidades.