A Chuva Choveu
Hoje ouvi a chuva urrar. No pé da serra, no recanto acanhado criado por meu pai, nas terras de meu avô materno. A sede da fazenda fica no alto e de lá muita terra se avista. Estando lá, movimentando na cozinha da casa, vimos o tempo fechar. Saí à porta e vi a chuva se aproximando. Bonita aparição! Ruidosa também. Corremos, eu e meu irmão Eduardo, para fazermos a foto de onde ela vinha, tão depressa e poderosa chuva. Os coriscos faiscavam, antes do ribombar dos trovões. O vento chega avisando que tudo ficará molhado em breve. Vários tons de cinza no horizonte. E a casa do vizinho enfeitou a foto que fiz da chuva bonita. Ao ver um fenômeno tão lindo, espiei do outro lado, para ver a casinha onde mamãe morou até os quatro anos de idade. Lembrei de minha avó materna e pensei quantas vezes ela assistira a mesma cena que sua neta, aos cinquenta e poucos anos, via agora. Nessas ocasiões, minha avó cantarolava: "Chove, chuvinha, bem fininha no telalhado ressecado. Agora quero ver se tiro um soninho, para esquecer de meus pecados. Tenho medo do corisco e do trovão, no resto de telhado." Mamãe conta que ela tinha pavor de chuva brava. Quando acontecia, pegava os raminhos que guardava da Semana Santa, no dia de Domingos de Ramos, e queimava no fogão à lenha. Segundo a superstição, isso abrandava a chuva e sossegava o coração de minha avó. A chuva choveu para ajudar na manutenção da vida e, também, para contar um pedacinho da história de minha avó Josefina Rosa de Carvalho, com alcunha de Dona Fina, a quem eu chamava de Dindinha.