UM FATO INESPERADO
Quem diria? Foi aquele ferrinho que ele colocara próximo à porta da cozinha muitos anos atrás que se transformaria em seu algoz. Vovô Horacides, meu avô paterno, cimentou o ferrinho de forma retangular ao lado da porta da cozinha com a finalidade de limpar os sapatos do barro que se formava no quintal quando chovia e evitar que a casa ficasse enlameada. Foi a solução mais simples e barata. Vovô era pobre, não tinha recursos para luxos. Se tivesse feito uma calçada, talvez o fato que vou narrar não tivesse acontecido.
Sua esposa, minha vó Mariquinha era hiponcondríaca. Tinha doenças reais, que não eram graves e outras, mais graves, que eram fictícias. Ela tinha viajado a Blumenau para uma consulta com cardiologista. Em Curitibanos havia um Clínico Geral e era só. Minha tia Nahir tinha ido com ela. Antes de sair pediram a vovô que recolhesse as roupas do varal pois só voltariam no dia seguinte.
Era verão e logo negras nuvens de chuva se formaram. Vovô correu ao quintal para buscar a roupa seca. Pequenos pingos começavam a cair e ele, esquecendo-se do ferrinho, andou naquela direção. O tropeço foi inevitável. Não só sujou e molhou a roupa como também não conseguiu levantar-se. Uma dor lancinante tomava conta de seu quadril. Gritou por ajuda e um vizinho veio ampará-lo e levá-lo para dentro.
Vovô não tinha mais nenhum parente em Curitibanos. Não havia celular e mesmo telefone fixo era raro. O vizinho ligou para seu filho, meu pai, que morava a quase 400 km de distância, em Curitiba. Papai sentiu a gravidade do momento, seu pai já estava se aproximando dos oitenta anos.Tratou logo de comprar passagem de ônibus e ir ao seu encontro.
Ao chegar à casa de vovô viu que tinha que trazê-lo a Curitiba. Certamente, uma cirurgia se faria necessária. Conseguiu, na prefeitura da cidadezinha, uma ambulância e vovô foi removido ao Hospital de Clínicas, onde foi operado. Nunca mais se recuperou totalmente. Ficou quase dois meses em nossa casa. Tínhamos pouco espaço e o instalamos na sala em uma cama de hospital. Na sala também dormiam vovó e tia Nahir. Todos nos revezávamos para cuidar dele.
Depois que retornou a seu lar, andava com dificuldade, usando um par de muletas. Passava longas horas na cama ou ao lado do fogão a lenha, sentado em uma poltrona confortável forrada com almofadas.
A fatalidade desse acidente doméstico lhe tirou a liberdade de ir e vir, comprometeu sua saúde e pode ter-lhe encurtado a vida. Faleceu aos 83 anos. Mas ao contrário de vovó, não se queixava. Mantinha excelente bom humor, sempre com um leve sorriso no rosto.
Vovô Horacides foi um moço bonito, vejo pelas fotos. Alto, magro, porte elegante. Os olhos azuis se destacavam no rosto moreno. A mesma cor de olhos que filhos e alguns netos herdaram.
Quem diria? Foi aquele ferrinho que ele colocara próximo à porta da cozinha muitos anos atrás que se transformaria em seu algoz. Vovô Horacides, meu avô paterno, cimentou o ferrinho de forma retangular ao lado da porta da cozinha com a finalidade de limpar os sapatos do barro que se formava no quintal quando chovia e evitar que a casa ficasse enlameada. Foi a solução mais simples e barata. Vovô era pobre, não tinha recursos para luxos. Se tivesse feito uma calçada, talvez o fato que vou narrar não tivesse acontecido.
Sua esposa, minha vó Mariquinha era hiponcondríaca. Tinha doenças reais, que não eram graves e outras, mais graves, que eram fictícias. Ela tinha viajado a Blumenau para uma consulta com cardiologista. Em Curitibanos havia um Clínico Geral e era só. Minha tia Nahir tinha ido com ela. Antes de sair pediram a vovô que recolhesse as roupas do varal pois só voltariam no dia seguinte.
Era verão e logo negras nuvens de chuva se formaram. Vovô correu ao quintal para buscar a roupa seca. Pequenos pingos começavam a cair e ele, esquecendo-se do ferrinho, andou naquela direção. O tropeço foi inevitável. Não só sujou e molhou a roupa como também não conseguiu levantar-se. Uma dor lancinante tomava conta de seu quadril. Gritou por ajuda e um vizinho veio ampará-lo e levá-lo para dentro.
Vovô não tinha mais nenhum parente em Curitibanos. Não havia celular e mesmo telefone fixo era raro. O vizinho ligou para seu filho, meu pai, que morava a quase 400 km de distância, em Curitiba. Papai sentiu a gravidade do momento, seu pai já estava se aproximando dos oitenta anos.Tratou logo de comprar passagem de ônibus e ir ao seu encontro.
Ao chegar à casa de vovô viu que tinha que trazê-lo a Curitiba. Certamente, uma cirurgia se faria necessária. Conseguiu, na prefeitura da cidadezinha, uma ambulância e vovô foi removido ao Hospital de Clínicas, onde foi operado. Nunca mais se recuperou totalmente. Ficou quase dois meses em nossa casa. Tínhamos pouco espaço e o instalamos na sala em uma cama de hospital. Na sala também dormiam vovó e tia Nahir. Todos nos revezávamos para cuidar dele.
Depois que retornou a seu lar, andava com dificuldade, usando um par de muletas. Passava longas horas na cama ou ao lado do fogão a lenha, sentado em uma poltrona confortável forrada com almofadas.
A fatalidade desse acidente doméstico lhe tirou a liberdade de ir e vir, comprometeu sua saúde e pode ter-lhe encurtado a vida. Faleceu aos 83 anos. Mas ao contrário de vovó, não se queixava. Mantinha excelente bom humor, sempre com um leve sorriso no rosto.
Vovô Horacides foi um moço bonito, vejo pelas fotos. Alto, magro, porte elegante. Os olhos azuis se destacavam no rosto moreno. A mesma cor de olhos que filhos e alguns netos herdaram.