Você fez alguém feliz em 2019*? (31/12/2019)

Não se trata de uma mensagem de otimismo, mas de uma carta de amor. Assim, nunca é demais provocar: - Por que continuamos vivendo na hipocrisia? Porque a hipocrisia há em nós.

Encontro em: “Humano, demasiado humano”, de Nietzsche: “Pandora trouxe o vaso e o abriu. Então, dele saíram voando todos os males. Um único mal não tinha ainda escapado. Então, Pandora, seguindo a vontade de Zeus, fechou a tampa e ele ficou lá dentro. A esperança. Zeus queria, com efeito, que os homens continuassem a se deixar torturar sempre de novo. Na verdade, a esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento dos homens”.

Transformamos algumas datas, em ações de graças. Imaginamos que essas cerimônias sejam mais alentadoras. E, ilusoriamente, renovamo-nos, a cada ano. A superstição parece ser um ritual necessário à vida libertina, cujo costume se sobrepõe a razão. E mesmo com os ciclos biogeoquímicos, nós somos quem podemos ser, não os deuses e semideuses das fabulosas histórias da mitologia ou heróis greco-romanos.

Reafirmo: a minha pretensão é fazer com que nos reposicionemos nesse cenário, embora debilitado, quanto ao nosso modo de ser e agir, para todo e sempre – E que os vícios de ontem tenham a nossa personificação, pois somos os únicos responsáveis por nossos erros e acertos. Não indulto nenhum inocente, ainda piores que os egocêntricos.

O que dizer do respeito? Acredito que o respeito entre os homens é dissimulado – Pois, tememos o que não conhecemos. Quando deixamos de ser aquilo que não somos, a relação tende a se banalizar. E chegamos a nos aprazer com a derrocada alheia... - Por não precisarmos desembainhar a faca, nem lavarmos as mãos... - Porém, não temos o direito de ser cruéis. "Homens cruéis são homens atrasados".

Mathias Ayres, em "Reflexões sobre a vaidade dos homens”, conta que quase tudo que a vaidade estima é vão: “Não tem limite a nossa vaidade: porque dura mais do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Quer maior prova do que a fábrica de um elevado mausoléu? No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais”.

Nós, humanos, não confiamos na comunhão. O máximo, que consideramos, é uma troca de favores. Temos que viver competindo – E é assim no post mortem - Como uma eterna disputa de poder. Não há nenhuma dádiva em suportar as próprias dores. A cada evento novo pedimos, inconteste, algo novo, mesmo sabendo que o resultado é inábil. Um despautério! Vivemos de chacinar essa vidinha de mentirinha... – Apoiando-se no assentimento religioso.

Um dia vencido é o mesmo que um dia para sempre... - Em nós mesmos. Orgulhe-se dessa verdade e seja eterno ainda hoje.

Quão bom seria se as coisas tivessem a medida certa: a hipocrisia, a esperança, o respeito, a vaidade... E só o amor pudesse transbordar. E que a hipocrisia fosse amor; e que a esperança fosse amor; e que o respeito fosse amor; e que a vaidade fosse amor. Reflitamos: onde está a honra e glória dessa humanidade? Arrisco: no amor.

A propósito: - Você fez alguém feliz em 2019?

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 31/12/2019
Código do texto: T6831036
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