A FARSA HUMANA. “Cosí è se vi pare”.

O real e o imaginário, ficção e realidade, permeiam a vida.

Há um enfrentamento da verdade clara que motivou Pirandello na famosa peça, “ Assim é se lhe parece”.

Quantos vivem assim, sob todos os ângulos, praticamente tudo relativo ao comum da vida.

Constato o que digo, faço imersão pessoal no meu entorno, por onde ando em qualquer solo.

O trânsito multiplicado das tantas formas de ser e existir que se comunicam nas aleias da existência.

Uns vestem de forma infantil o “assim é se lhe parece”. É um jeito de viver, e quem sabe, de se sentir bem.

Há uma infantilidade que se pretende saudável, no “assim é se lhe parece”, assumir uma realidade que não existe, caminhar ao contrário da corrente que flui e se desenvolve em certezas sedimentadas.

Projetam “realidades ficcionais”, o palco das convicções do desconhecido e aparentado conhecer.

E assim vivem, como seriam se fossem, como se mostram, como não são. É o “não é”,o “não eram”, o “não serão”. Um concerto da ficção em que vive o mundo. Sentem coisa diversa. Vivem dramas, paixões, afrontas, indiferenças, e um oceano de inexistência que querem existente, verdades exclusivas, solitárias, sentimentos em cumeadas caindo em abismos irreais, doutrinação do que não acreditam, do que não conhecem, religiões não religiosas ou pessoais, excludentes, sem o “religare”. São os fundadores das retóricas empoeiradas pelo desconhecimento. Assim caminha a humanidade, sob farsa.

Querem que existam inexistências. Decorre, contudo, de simplicidades que enganam, mas pouco enganam, muitos podem ser enganados, não todos. Shakespeare, se vivo, se surpreenderia nesse mar de ocorrências desavindas, onde se diz o que se percebe ou se sente, que nada significa, coisa alguma, nem para si mesmo.

Mostram por condutas silenciosas, em gestos, ou verberantes, esse passo contrário, um cenário onde a “persona” romana ou a “maskera” árabe não fica no rosto escondido, está além do enredo e aquém da vontade. Queriam essas pessoas que fosse verdade o que elas queriam que fosse, em variadas hipóteses.

Assim creio, verifico e testo, nas minhas andanças. Massas de gentes nessa procissão do “assim é se lhe parecer”.

Mas posso estar errado. Quem está certo?

Podem me enganar! Não seria muito fácil. E ingresso também no “assim é se lhe parece”. Mas não sou uma barreira que filtra enganos. Quem está certo? A lei; a sociedade que faz as leis; as autoridades que aplicam a lei; as que executam a lei; as promessas religiosas; os homens?

Por vezes a conduta, clara para íntimos observadores do meio social, avaliado pela temporalidade e circunstâncias, é tão presente que sai do compreensível ao surpreendente. Sim, é possível ser enganado, mesmo se achando esperto. Nem mesmo o cuidado de parábolas ou metáforas dos que vivem no “se lhe parece” são enganosos no teatro da vida.

Essa vontade do “se lhe parece” engana pouco. É como peixe,

o peixe morre não pela boca, como se diz, por investir contra o anzol, mas por seu metabolismo glutão. O que se colocar para comer ele come, mas não digere. Não se digere o que não parece e faz mal.

O estulto por vezes é presa fácil, e passeia pela sociedade não como anzol, mas como glutão.

São assim esses personagens que nos servem de cobaias sociais.

Ficção para a recepção é o alimento preferido, e a difunde como realidade sua ou de terceiros.

Vivem o “assim é se lhe parece”, “Cosí è se vi pare”. A sociedade está massificada nessa visão desajeitada, e divisionária.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 29/12/2019
Reeditado em 29/12/2019
Código do texto: T6829453
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