A casa velha da roça
" A casa velha da roça
Parecia uma pessoa importante.
Com suas paredes branquinhas e janelas azuis.
Não eram janelas!
Eram olhos!
A água corrente na pia, vindo direto da bica
Fazia a vida circular nos canos!
Não eram canos, eram veias!
Jamais me esquecerei da casa velha!
Tão linda! E tão velha!
Isso, sim, é consolo!" - Carla Castro
A saudade machuca, às vezes... Estou impregnada da casa velha. Lembro-me de cada cantinho, com sua mobília. De como era fresca e aconchegante, apesar de enorme. Do banheiro, que ficávamos impressionadas de não ter odor de casa velha. Dos jardins que a cercavam. Do caramanchão. Das Três Potes, que adoravam aterrissar no terreiro, passeando ressabiadas debaixo dos pés de manga. Das paredes alvinhas e janelas azuis que Adevaldo pintou. Do cheiro de esterco que sentia quando chegava à fazenda. Da jibóia, a quem chamávamos Dona Jiba, quando se mudou para o barracão das vacas. De como eu ordenhava na mão. Das centenas de aves que papai tratava e, mesmo que não estivesse alimentando, bastava pingar no terreiro para ter todas o seguindo. Do pavão, que ficou uns tempos conosco, apesar do antigo dono ter se mudado para a fazenda vizinha. Dos passeios pelos pastos e do aperto enorme por causa do rugido da onça que nos espantou daquela grota, lembra-se mamãe? De todas as frutas do quintal e dos pastos, como as gabirobas vestidas de noiva, antes da frutificação. E das pessoas que éramos, naquela época... da Naná, ai... duas lágrimas enxeridas embaçaram meus olhos. Não posso mais.