Todo paraense gostaria de morar onde passa o círio.
Desde que me mudei pra ilha de Mosqueiro há um ano, tenho pensado numa teoria que há anos tenho em mente, mas nunca havia escrito sobre tal. Por algum motivo, o qual não saberia explicar com todas as letras, nós paraenses temos incutido a idéia (até inconscientemente) de que morar bem é morar no centro comercial de Belém; e qualquer lugar diferente do referido, é automaticamente considerado longe, de difícil acesso, perigoso e por aí vai. Geralmente quem aponta a distância como um problema é alguém que se considera morador mais próximo do centro da grande Belém. De onde será que vem essa cultura idiota?
Trabalhei por oito anos no bairro da Cidade Velha, trecho dentro do referido centro comercial, portanto jamais considerado “longe” pois vive ou mora “longe” quem não mora nessa área. Nessa época, tive uma namorada que se envergonhava de dizer (quando estava na Cidade Velha) que morava na Pedreira, pois o tal bairro, estaria muito distante do centro; entretanto quando conversávamos (na casa dela) me sentia discriminado por morar na Marambaia, um bairro ainda mais distante da tão sonhada Avenida Nazaré. Égua! Será mesmo que morar bem é morar no centro? Eu me perguntava na época. Hoje sei o quanto essa pode ser uma idéia totalmente equivocada.
Mesmo ainda hoje, lugares como a Cidade Nova o qual possui um Centro comercial tão completo quanto qualquer outra área metropolitana de Belém, ainda é apontada por muitos como um lugar distante. Mas afinal distante do quê? De onde? Acredito que criou se uma cultura desde que a cidade de Belém surgiu, de que o ideal seria morar em áreas próximas aos locais de trabalho de uma grande maioria, pelo simples fato de um número muito grande de pessoas se dirigirem diariamente ao centro comercial de Belém, que ao meu ver seria o último lugar que eu procuraria pra viver.
Uma outra teoria seria o simples hábito brasileiro de reagir de antemão de forma negativa a qualquer situação; por exemplo, se alguém tem uma idéia de fazer algo novo ou diferente, tem sempre um indivíduo no grupo que faz questão de ressaltar as dificuldades e as possibilidades de algo não dar certo; o mesmo acontece quando se convida alguém pra ir até a sua casa, se ela não estiver no circuito do círio de Nazaré, o seu amigo pode até aceitar o convite, mas se a casa dele estiver mais próxima do referencial (centro de Belém), quem mora longe é você.
Absurdos à parte, eu apenas escrevi esse texto pra refletir o quanto a gente passa a nossa vida valorizando idéias que não nos levam a nada, pelo contrário em muitos casos podem até atrapalhar-nos de tentar ou experimentar algo novo.
Então, você ainda faz parte daqueles que sonham em comprar um “apertamento” na Presidente Vargas?
Jairo Souza.