TALCO BRANCO PARA EMBRANQUECER
Não consigo lembrar o que causou aquela reação em mim aos 7 anos, lembro que o talco por ser branco me pareceu uma boa saída.
Era uma noite de festa na igreja, minha tia estava animada para me levar, creio que deveria ser natal ou dia das crianças, havia muitos brinquedos lá. Mas não é dos brinquedos que me dói lembrar e sim de minha atitude aos 7 anos.
Lembro-me da demora no banho, do vestidinho rodado de estampas florais vermelhas com botões de ursinhos. O trançar do meu cabelo crespo, minha tia ali toda orgulhosa de me deixar perfeita para a festa, mas eu como criança negra sabia que nada daquilo me faria escapar dos repúdios das outras crianças por causa de minha cor.
Na minha inocência achei que o talco branco iria me ajudar a resolver isso, e quando já estava pronta para sair, eu corri para meu quarto e peguei o talco branco, passei nos meus bracinhos e pernas e por último em meu rosto. Quando me vi no espelho sorri, saí correndo para que minha tia visse como eu estava linda e perfeita.
A reação da minha tia foi o que me fez ver que eu não precisava ter a pele branca para ser amada ou ter valor. Ela se ajoelhou na minha frente com os olhos cheios de lágrimas e disse que eu não precisava ter passado aquilo em mim, porque o que eu tinha de mais belo era minha pele negra.
Eu tinha apenas 7 anos, mas pude entender claramente que fui covarde em tentar me esconder, então pedi para ela não chorar e pedi para tomar outro banho.
Não sei quais tipos de violências raciais sofri para ter tido aquela reação, mas imagino que foram tão dolorosas que até hoje não consigo recordar.