A MISSA DE NATAL SE TORNA OBRIGATÓRIA

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Uns dias atrás, numa escola pública da cidade de Agrigento (Sicília) a diretora do estabelecimento de ensino, a professora Anna Gangarossa, após ter recebido solicitações de vários pais, resolveu cancelar a tradicional missa de Natal reservada aos alunos. A motivação foi a proteção e o respeito das minorias religiosas (ateus, muçulmanos, agnósticos, etc.) e da laicidade do Estado fato, isso, sancionado pela Constituição da República Italiana. Entretanto outras famílias reagiram e a polêmica foi logo veiculada pelo WhatsApp espalhando-se da mesma forma entre os políticos. É oportuno sublinhar que a missa teria sido celebrada em horário escolar e, portanto, todos teriam tido a obrigação de participar: por isso a diretora determinou, como alternativa, que os estudantes fossem visitar uma exposição de instrumentos musicais.

Imediata a reação dos partidos de direita, em particular da Lega, cuja expoente local, Nuccia Palermo, fez a seguinte declaração: “A diretora cometeu um erro porque ela sucumbiu a uma forma de chantagem do extremismo, esta é uma forma de censura, estamos nos submetendo. A escola –frisou- deve ensinar a liberdade e o respeito, enquanto o ato de cancelar um preceito de Natal vira uma forma de desrespeito”.

A diretora respondeu: “Eu respeito o pluralismo e, acima de tudo, sou uma mulher de direito, por isso devo cumprir as regras que exigem que eu não dedique horas curriculares ao culto, pois a escola deve ser laica e existem regras detalhadas impostas pelo Ministério da Educação”. O ex-ministro Matteo Salvini, atual líder da Lega, expressou solidariedade "a todas as crianças, professores e pais a quem foi negada a beleza do Natal, em nome de uma inaceitável submissão cultural e de princípio. Eu pessoalmente enviarei um presépio a essa diretora, que evidentemente falhou em sua missão educacional".

Mais uma vez a parte mais reacionária do mundo político italiano, na tentativa de angariar votos, tentou impor uma visão integralista à nossa sociedade. Diferente da vizinha França, que fez da laicidade um pilar fundamental do Estado, na Itália ainda não se conseguiu estabelecer uma clara linha divisória entre o que é público e o que é particular. Não deveria ser tanto difícil entender que a escola é pública (e laica!) enquanto a fé é particular e, como tal, os seus cultos devem ser celebrados ou em casa ou nos lugares a eles deputados, ou seja, nas igrejas. Por outro lado, alguém já viu uma missa sendo interrompida pelo sacerdote para dar reforços de literatura ou e matemática? A escola é e deve continuar sendo laica, pelo menos aquela pública. O próprio Jesus sancionou a divisão entre Estado e religião com essas palavras: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).

Pessoalmente não tenho nada conta aqueles que professam uma religião, desde que eles não tentem impor o seu credo ou me obriguem a assistir cultos que, para mim, não significam absolutamente nada.

Essas simples considerações nada tem a ver com o fato de acreditar numa Divindade ou em nenhuma, mas derivam do convencimento que qualquer fé é um fato que pertence à esfera mais íntima do indivíduo e, como tal, deve ser vivida interiormente, sendo uma questão particular entre o homem e Deus. Afinal o próprio Jesus ensinou que: "Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não mostrar aos homens que estás jejuando, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (Mateus 6:17-18). Tornar obrigatória a missa de Natal, além de ser contra o ensinamento de Cristo, que pregou amor e tolerância, é o mesmo que obrigar as mulhers islâmicas a esconder o rosto atrás do hijab.