O PÁSSARO.

Quisera eu ter a paz e a tranquilidade de cada pássaro que pousou em minha janela. Quisera eu voar livremente pelo céu azul, e entre as nuvens brincar alegremente. Mas não sou este pássaro, não tenho asas, a não serem as asas da imaginação, mas ainda essas, os homens a quiseram cortar.

Quisera eu ser esse pássaro de reluzentes asas, de bico longo, e de um canto suave e lírico. Sou apenas esse poeta desajeitado com as palavras, tropeçando vez ou outra em uma rima qualquer. Outro dia, veio em minha janela um pássaro diferente, suas asas eram mais longas, seu canto mais afinado, eu não consegui reconhecer que espécie de pássaro era aquela, entretanto, causou-me grande admiração pela beleza e elegância daquela ave desconhecida, verdade é, que toda ave tem a sua singular beleza, minha admiração não deve ser menor. Uma vez mais, quisera eu ser aquela ave também, e cantar igualmente a ela.

Um pássaro na janela pode significar muitas coisas, talvez o desejo mais forte e mais visível seja o desejo de liberdade, desejo de fuga, de sair para algum lugar novo e desconhecido. Suas asas, talvez sejam o combustível que impulsiona esse sonho de livre-arbítrio, esse desejo de libertar-se. Nada é mais forte no coração humano que o desejo, buscamos sempre a satisfação de nossos desejos, e por vezes, o desejo é simplesmente a própria libertação de si mesmo. Um pássaro na minha janela, bastou apenas alguns segundos de sua música, de seu balé elegante de asas se debatendo e pequenos pulos compassados pelo canto agudo, bastou apenas isso para levar- me a uma profunda reflexão. A reflexão da liberdade condicional, nós todos vivemos em liberdade condicionada à prisão parcial, isso se deve pelo fato de vivermos em uma sociedade perdida. Vivemos em meio a bandidos e assassinos, e o pior de tudo é que não sabemos quem são eles. Talvez a pessoa em sua frente na fila do caixa do supermercado seja um bandido ou até mesmo um assassino, não está escrito na testa dele se ele é bom ou ruim. Por esse motivo, vivemos sempre desconfiados e com medo. A pessoa com boné esquisito e linguagem cheia de jargões, pode ser uma pessoa de boa índole, ou, pode ser uma pessoa de caráter maligno. Ou talvez o engravatado de português polido, pode ser uma pessoa boa, ou, pode também ser uma pessoa ruim. Quem saberá afinal?

Quisera eu ser este pássaro de reluzentes asas, de canto afinado, de singular beleza. Quisera eu ganhar as nuvens e voar o mais alto possível, ter a solidão das alturas, cantar entre as nuvens, e lá do alto, enxergar tudo pequeno. Quisera eu ser qualquer pássaro, desde que ele possa voar. Eu desejo ardentemente a liberdade de um pássaro, ser livre e ter entre as asas o sabor da liberdade. Mas sou apenas um simples homem, e minha liberdade é condicional. Sou livre apenas quando escrevo, minhas asas são as letras e o meu céu é a página em branco a minha frente, nela posso voar livremente, apenas nela, em nada mais. Quisera eu ser este pássaro de reluzentes asas e canto afinado.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 22/12/2019
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