PRIMEIRAS LETRAS


As aulas começariam em 1º de março no Grupo Escolar Arcipreste Paiva e eu faria 8 anos no dia 23. Entrei tarde no ensino primário, hoje as crianças podem começar aos 6 anos completos o ensino fundamental, como se chama agora. Mas eu já ensaiava a escrita, conhecia o alfabeto e os números, de forma que, ao terminar o primeiro ano sabia ler, escrever e fazer as operações matemáticas básicas.

Uns dois meses antes do início das aulas, ganhei 2 uniformes usados que pertenceram à minha prima Irene. Ela era um pouco mais velha e mamãe teve que encurtar as saias pregueadas na cor azul marinho e as mangas das camisas brancas. Meias brancas também vieram no pacote e meus pais me compraram um par de sapatos pretos e uma mala da mesma cor, em couro (não se usava mochila). Para completar, eu recebera livros, cadernos, lápis preto, lápis de cor e borracha que foram devidamente guardados na pasta, caneta não era usada na primeira série.

Com todos esses apetrechos prontos, eu me senti imensamente feliz. Ansiava em ir para a escola.

Antes do ano letivo começar, eu vestia o uniforme completo e, portando a maleta com os materiais, desfilava em frente ao espelho grande da penteadeira de mamãe, Imagem que jamais vou esquecer.

Nunca fui aluna brilhante mas, certamente, das mais aplicadas. Muitas vezes recebi as melhores notas da classe, do primário até a universidade. Isto se deveu ao ambiente onde fui criada. Mamãe era professora, sempre às voltas com livros e cadernos e este fato me influenciou. Em nossa casa havia livros e revistas disponíveis e meus irmãos e eu adquirimos, muito cedo, o gosto pela leitura.

Ainda hoje, guardo com carinho uma foto da escola primária em que estou sentada atrás de uma mesa onde há muitos livros. Na parede, um mapa do Brasil compõe a cena. Os pontos altos da foto são meu sorriso feliz, a expressão satisfeita, ostentando meu cabelo cortado abaixo das orelhas com uma franja bem reta que parece ter sido marcada com régua, corte muito usado pelas meninas da época.