Buscando a Perfeição
"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus" (Filipenses 1.6).
Alguns autores descrevem o perfeccionismo como uma rede de cognições, onde se encontram expectativas, interpretações para os acontecimentos da vida e a avaliação constante de si e dos outros. Outros defendem, como conceito de perfeccionismo, a tendência para acreditar que existe uma solução perfeita para todos os problemas e, além disso, acreditar que essa é a forma que deve ser buscada, já que o erro traria consequências muito severas.
Muitas pesquisas na atualidade buscam compreender os elementos constituintes do perfeccionismo e sua possível relação com patologias como distúrbios alimentares, depressão, ansiedade, comportamentos obsessivos compulsivos e até comportamentos suicidas.
Muitas vertentes de estudo atribuem à genética certa tendência ao desenvolvimento desses padrões de comportamento, outras colocam o perfeccionismo como “traço da personalidade”, outras ainda buscam explicações no contexto social e nos acontecimentos ao longo do crescimento.
A perfeição absoluta é o grande alvo da redenção humana. Esse processo, em todos os seus aspectos, constitui-se na soma das pequenas coisas. Ninguém, jamais, atingirá esse alvo num único esforço. É necessário que se permita uma pincelada aqui, outra lapidada ali; o rebaixamento de uma aresta que ficou, assim como a elevação de um traço que faltou. A busca da perfeição demanda tempo, habilidade, renúncia e submissão. Do ponto de vista espiritual, o homem terá de se deixar moldar pelas mãos do Pai, até que seja transformado num vaso novo, numa nova criatura! Tal transformação, entretanto, não acontece assim como num passe de mágica. Não. Pouco a pouco, gradativamente, a mudança vai acontecendo e desenvolvendo até atingir o seu clímax na eternidade.
Conta-se que um amigo pessoal de Miguel Ângelo--o grande escultor italiano--um dia, aproximando-se dele em sua oficina de trabalho, disse-lhe num tom de brincadeira mas ao mesmo tempo querendo que ele tomasse as suas palavras como verdadeiras: --Miguel, acho que você na realidade não passa de um grande preguiçoso disfarçado de escultor...
Entendendo que o amigo de fato o acusava, Miguel Ângelo exclamou com certa surpresa, porém em atitude defensiva:--Não sei em que você se baseia para me classificar de preguiçoso, porque eu trabalho o dia inteiro e às vezes até algumas horas de noite.
Veja bem--retrucou o amigo--na semana passada estive aqui e o encontrei esculpindo essa estátua. Agora, depois de uma semana volto aqui e vejo-o ainda trabalhando na mesma estátua e nos mesmos lugares. Não houve nenhum progresso...
Deixando de lado os seus instrumentos, o escultor explicou pacientemente ao amigo que o acusava:--Se prestou bastante a atenção aos inúmeros detalhes da escultura, verá que a coisa não aconteceu bem assim como fala. Veja como trabalhei desse lado, até tornar este músculo mais saliente; procurei dar aos lábios uma expressão mais
natural e detalhei bem as linhas do nariz... Ora, mas tudo isso não passa de bagatelas. São minúcias quase imperceptíveis— retrucou o amigo importuno.
Posso até admitir que sejam, já que pensa assim; mas saiba que a soma das muitas bagatelas resultam na perfeição e a perfeição jamais será considerada como detalhes sem importância ou bagatelas.
Tal conclusão, sem dúvida, teria feito calar o amigo. Tantas vezes se tem repetido "a pressa é inimiga da perfeição" e certamente não só os escultores sabem disso, mas todos sabemos. Nada neste mundo atingirá a perfeição, sem que se leve em conta as minúcias, os pequenos detalhes que exigem tempo, paciência, observação e muito amor e dedicação. E como disse o escritor "Não enlouqueça buscando a perfeição. Alguns defeitos são importantes". (Paulo Coelho)