Boas Festas! E sem Código de Barras...
 
 
 
“A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias.”
                                                                                       (Fernando Pessoa)
 
 
Vicarie acabara de sair de um encontro com amigas. Aquele encontro de final de ano capaz de reunir ex-colegas de trabalho que raramente se veem. Tudo transcorreu maravilhosamente bem. Falaram de amenidades, do passado e do futuro. E quem veio de outro país, além das novidades, trouxe a certeza para suas amigas brasileiras, de que a verdadeira amizade não se corrói com o tempo.

Elas estavam num restaurante de um grande Shopping da cidade. Ao sair dali, cada qual tomou o seu rumo. E Vicarie, uma jovem senhora, ao passar em frente duma loja de cosméticos, foi abordada por uma simpática vendedora que lhe convidou para conhecer os produtos da casa. Querendo retribuir a gentileza, ela aceitou.

Na loja, a vendedora fazia a demonstração dos produtos ao tempo que analisava a pele de Vicarie.  Até aí, nada de estranho, nada que lhe chamasse a atenção; porém, num dado momento, fixando o olhar nos lábios superiores da jovem senhora, a demonstradora, sem nenhuma cautela, lhe diz: “Aqui você já tem um código de barras”. Diante disso, Vicarie sorriu e falou: “Sim; o meu código de barras... Eu já fiz a leitura dele”.
 
Ao chegar a sua casa, na frente do espelho, Vicarie disse o seguinte:“Eu não tenho código de barras algum; o que eu tenho são marcas do tempo, marcas da vida”. A partir daí, sentou e escreveu:
 
Código de barras é algo que se atribui à mercadoria, a produtos, a coisas que têm um preço e que estão voltadas para o consumo. Eu sou um ser humano. Se eu sou um ser humano, eu tenho valor e não preço. Se eu sou um ser humano eu tenho marcas senis e não código de barras. E se eu tenho marcas senis é porque já experimentei muita coisa nesta vida.
Um dia...
Eu já quase morri; eu caí e levantei; eu tive que deixar o meu teto; eu perdi o emprego; eu casei e descasei; eu fui traída; eu já chorei de medo; eu amei e desamei; eu perdi um parente; eu precisei racionar o alimento; eu perdi um amigo; eu senti saudades; eu acreditei que quem nos chama de amigo, é amigo. E um dia, ainda menina, eu deixei a casa dos meus pais para poder estudar. Portanto, eu sei a diferença entre um código de barras e traços senis. É natural que a vida me contemple com marcas senis.
Por conta disso, eu sou eternamente GRATA. Obrigada, meu DEUS!
 
Depois disso, só me resta desejar a todos,
Boas Festas! E sem Código de Barras...
 

__________________________________________________________
Nota: 
O Mercado, em geral, deve mudar a sua abordagem para com o cliente. É compreensível que a máquina imite o homem; porém não parece salutar o homem imitar a máquina.