Cronema
"Adão, o primeiro espoliado - e no próprio
corpo." (Drummond)
Naquele fim de tarde de domingo
Eu, naquela praça, no ponto mais alto da cidade observava:
O sol que se debruçava no horizonte
Trocando de turno com as primeiras estrelas
Cá embaixo árvores dançavam a valsa vienense
Crianças alegres corriam sem pressa de viver
Cheiro de pipoca entre promessas de amor dos amantes
E a cidade lá embaixo acendia suas luzes devagar
Parecendo um enorme tapete de purpurina se estendendo
Eu
Sozinho
Em meu navio de cruzar deserto
Naquele início de noite de domingo
A tudo assistia como quem assiste a um bom filme várias vezes
Tudo lindamente comum
De repente uma bolinha quicando atravessa o gramado a minha frente
Na captura dela um Dachshund preto que corre preguiçoso e com pressa de viver
Logo atrás dele sua dona.... ah!
Naquele momento a praça deixou de ser praça
Como um apagar das luzes num palco de teatro
Exceto a luz que pairava sobre aquela moça
E tudo a minha volta assoberbou
Naquela noite de domingo
Ela fez meus olhos sorrirem
Até chegada a hora em que partiu numa carruagem negra
Será que um dia vou te ver de novo?