EXISTIR, MESMO QUE SEJA COM HUMILHAÇÃO

​Ali estava eu no ônibus coletivo urbano, na capital da alegria, do turismo,da hospitalidade, Salvador. Tinha um objetivo específico, ir em uma das escolas que leciono para participar do conselho final de classe do final de ano. O coletivo para aqui, para ali, é um entre e sai, é um sobe e desce.Quem está ali tem que ter a paciência de Jó, respirar profundamente para aguentar o segue e para a todo instante. E nesse ritmo entra um "passageiro", um rapaz dos seus vinte e tantos anos com uma criança ao lado, e com uma sacola contendo alimentos para lanche, tinha uma certa quantidade. O motorista o deixou entrar imediatamente pela porta dianteira. Um rapaz saudável, assim que entrou foi logo se posicionando em uma das cadeiras disponíveis ou se encostando ,elevou a voz e explicando o porque da sua presença no referido ônibus. Alegou que estava desempregado, e que precisava inteirar o dinheiro de gás de cozinha e que pedia a colaboração dos passageiros que comprassem um dos produtos ali disponível em suas mãos. Algumas pessoas compraram, com o passar de alguns pontos, saiu do veículo.

Conduzido pelo motorista, o ônibus continuou na sua trajetória, passado alguns cinco minutos,sobe um homem maduro, com seus cinquenta e tantos anos, sobe com uma dificuldade de locomoção, parecia que fora vítima de um derrame, tinha dificuldade de locomover uma das pernas como também em movimentar um dos braços. Entrou pela frente. Ele também tinha uma espécie de sacola, e como o anterior, continha em seu ombro uma sacola, a finalidade era a mesma, vender. Encostou-se ao lado de uma das cadeiras, e com uma voz não tão altiva como fora o rapaz, pediu ajuda as pessoas , alegava ele que estava com dificuldade de se manter e que estava a espera do crivo do INSS para se aposenta, e até o momento não lograra êxito. As pessoas foram mais solícitas com ele do que com rapaz com uma criança. Geralmente essas pessoas usam muito crianças para comover os indivíduos. A estratégia não mais eficaz como antes.

Fico eu aqui me imaginando no lugar dessas pessoas. Não sei, é difícil me colocar nessa posição, me conhecendo do jeito do meu ser, talvez não tivesse estrutura para enfrentar uma situação dessa. Tá certo, meu mundo é outro, não falo da questão econômica, mas sim no modo de pensar, de ver uma realidade. Essas pessoas não têm um olhar para um todo da vida.Elas só estão preocupadas no seu existir mesmo que ao preço da humilhação, da perda da dignidade.

Ao falar neste assunto, não posso deixar de tocar no sistema capitalista e o que ele produz de nefasto, nas consequências vivemos neste país. Os defensores do sistema vão alegar que foram eles que procuraram seus destinos, que não procuraram evoluir. Contudo, acho que estou muito sensível ao perceber o quanto vivemos numa sociedade degradante, sem dá as minimas condições de existência aos oprimidos.

inclemente
Enviado por inclemente em 18/12/2019
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