Os pardais

Sou madrugadeira, acordo cedinho mas fico na cama, lendo. E ouvindo os sons da manhã, cheia de canto de passarinho. Tenho um pequeno pé de manacá no jardinzinho de frente à janela do meu quarto. Sempre há ninhos de passarinho ou passarinho descansando do vôo nele. Ao acordar hoje, ouvi canto vagabundo de pardal. E pensei como gosto dessas avezinhas tão comuns e sem boniteza. De repente, um ruído de bater de asas e o bichinho se empoleirou no bastão da cortina do meu quarto. O pardal saiu dos meus pensamentos e se materializou bem ali, diante dos meus olhos. Sorri contente e emiti uns assobios baixinhos e calmos. Ele ficou paradinho, escutando. Acho que poderia ficar muito tempo ali, acalmando-se do susto de ter ido parar na grande gaiola, que é a casa. Esse bichinho, por ser comum, marrom ou acinzentado, não é cobiçado, não tem valor comercial. Seu canto é pouco elaborado. São gregários, vivem em bandos. Originaram-se da África e se esparramaram pelo mundo. Acho, que são os pássaros da cidade mais felizes e livres! Adoro vê-los tomando banho de areia na rua de paralelepípedo, raramente sozinhos. Ou fazendo festa no bebedouro dos cães, espirrando água uns nos outros, como se estivessem brincando na lagoa. Aqui em casa, na mesa do café, gostam de aterrissar. É preciso manter o pão protegido com guardanapos de pano para não comermos o pão bicadinho. Às vezes, estou à mesa e eles dão um rasante, fazendo a curva, assustados com a presença de humanos. Acho graça de vê-los assustados e, por isso, mudarem a rota do vôo. E no fim da tarde, se quisermos ficar surdos de outros sons, é só irmos à Praça da Embaré. Lá existem árvores frondosas e velhas e o som que fazem é ensurdecedor. Porque são milhares que têm seus ninhos nessas árvores. É bonito vê-las chegando, aos bandos, se ajeitando, entrando na copa e enchendo a praça de sons de passarinho. Imagino que, no Sermão às aves, onde São Francisco de Assis mandou calar as andorinhas, existissem milhares de milhares de pardais. Deve ser esse o motivo de serem as aves mais felizes do mundo! Ouviram da boca de Francisco o nome Bendito de Deus!

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 17/12/2019
Reeditado em 17/12/2019
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