Cale-se, também, presidente! * (16/12/2019)
Paulo Reglus Neves Freire, nasceu em Recife, aos 19 dias do mês de setembro de 1921, e morreu na cidade de São Paulo, em 2 de maio de 1997, para viver eternamente. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
Mas, para o presidente do Brasil, não passa de um energúmeno.
Paulo Freire é o brasileiro que mais recebeu títulos honoris causa. Ao todo, foi homenageado em pelo menos 35 universidades brasileiras e estrangeiras. Além disso, mais de 350 escolas ao redor do mundo levam seu nome.
Mas, para o presidente do Brasil, não passa de um energúmeno.
A Pedagogia do Oprimido, um dos livros de Paulo Freire, é a terceira obra mais citada em trabalhos na área das humanidades em várias partes do globo terrestre.
Mas, para o presidente do Brasil, não passa de um energúmeno.
Diversos centros de estudos se dedicam à obra de Paulo Freire. A escola pública de Massachusetts, por exemplo, que já chegou a ser considerada a melhor escola de ensino médio dos EUA, é uma das aplicadoras.
Mas, para o presidente do Brasil, a partir de afirmações feitas, nesta segunda-feira (16), na saída da residência oficial do palácio da alvorada, o educador e filósofo Paulo Freire não passa de um energúmeno, quando questionado sobre o tema.
Eu respeito que o senhor considere que a programação da TV Escola é “totalmente de esquerda”, e que promova a “ideologia de gênero” com recursos públicos.
Eu respeito a sua opinião de que a programação da TV Escola “deseduca”.
Eu respeito, a decisão do Ministério da Educação de não renovar o contrato com associação de comunicação educativa Roquette Pinto (ACERP), responsável por gerir a TV Escola, por considerar a audiência muito baixa.
Eu respeito o MEC achar que o valor de R$ 350 milhões é alto e que estuda a possibilidade das atividades do canal serem exercidas por outra instituição da administração pública.
Eu respeito a sua fala quando diz que as mudanças que a sua gestão implementará terão reflexos na educação do país num prazo entre cinco e 15 anos e que o Brasil não foi bem na prova do Pisa.
Só não posso aceitar que o senhor desqualifique a vida e a obra do patrono da educação brasileira.
Mesmo que não haja unanimidade entre pesquisadores quanto a universalidade de sua metodologia... “Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos aprender a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros” (Douglas J. Simpson, crítico).
O autor da "Pedagogia do Oprimido", defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transformá-lo. E, por isso foi, estranhamente, perseguido como: “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”.
Ana Freire, de 86 anos, viúva de Paulo Freire, rebateu a declaração de Jair Bolsonaro, com afeto: “A palavra energúmeno não se adequa a Paulo. Paulo não é isso. Paulo não é nenhum demônio que veio à terra. Pelo contrário, Paulo veio à terra para pacificar o mundo”.
E, assim, eu me calo. Cale-se, também, presidente!