Isso não é POESIA!!!

Isso não é POESIA !!!!

Em mais um dia de vivências proibidas e nocivas fixam os escritores na luxuosa rotina de elaborar seus textos, estilos, refletir as críticas e acalentar-se nos hábitos diários, nas peripécias banais pra fazer daquilo sensacionalismo de palavras interessantes e virar literatura.

Nosso amigo protagonista desta breve história é o Zezão, sim porque acabara de se lançar escritor e seu nome é José, só que existem tantos Josés, e teria que ser diferente, o nome já era um marco nos textos, algo diferente deveria assinar aquelas linhas, pensou no carinhoso Zé, entretanto também já haviam tantos, o tópico que poderia dar era o aumentativo do Zé, o Zezão.

Procurando um estilo diferente, algo que nunca tinha escrito, palavras que nunca tinha usado, ele tentou criar algo novo, pois estava cansado, com nojo de poesia... Não conseguiu, oh parabéns sua coisa ruim... Mas... Mesmo assim criou, fez uma composição de palavras, algumas frases faziam sentido, outras não, estava pronto o texto de nem uma página e por vezes vago, por vezes sentimental, mixando situações... Era confuso.

Imprimiu e saiu com o texto em mãos, lavou bem estas mãos porque como todo escritor queria textos branquinhos, sem manchas de tinta ou gotas de gordura como quem acabou de escrever num risólis e quase mordeu a folha de papel grafada. Queria publicá-lo em periódicos por toda a parte, primeiro mandou por e-mail para os contatos distantes, após foi vagar a procura de solidificá-lo nos veículos de comunicação por ali perto. Passados nem cinco minutos, estava desligando o computador e um alerta de 15 mensagens recebidas piscou na tela, leu uma por uma, eram 15 respostas sobre o e-mail que mandara com o texto, dos que 43 que havia mandado 15 tinham respondido. Todas, exatamente todas as mensagens agradeciam, elogiavam, ou comentavam sem peso a “poesia”... “Que linda poesia”, “Poesia maravilhosa”, “Parabéns pela linda poesia”. O que eles não haviam entendido, aquilo não era uma poesia, nem ele sabia direito o que era, mas com certeza poesia não, pois estava fugindo daquele estilo, e entre tantos porque faria se estava esgotado? Estava esgotado, não louco. Tudo bem, ao menos tinham lido e tinham conhecimento de mais uma obra do amigo ou conhecido. Saiu para prosseguir com a rota, bem tolo, prosa e cheio de si mostrou em algumas bancas de jornais, onde uns liam com atenção, outros mal passavam os olhos, e os que ainda não falaram “aham”, disseram, que era um texto bonito, e que quando tivesse um daqueles levasse uma cópia para lerem, pois adoravam ‘poesia’. Ele ficou atônito, quase depressivo, seguiu seu caminho, meio triste e sem jeito, com esperanças á toda velocidade, pois todas áqueles que até então mostrara eram meros leitores, leigos, os que entendiam e lhe diriam o que era aquilo de verdade.

Em três jornais diferentes os editores chefes disseram que não dava, um porque o espaço estava cheio, ou aquilo era pago, e também porque o público não estava interessado em ler ‘poesias’. “Mas isto não é poesia!”, “Não se altere rapaz, obrigado, alguém lhe acompanhará até a porta”.

O que estava acontecendo? Qual era o problema? Aquilo não era poesia, e ele estava quase louco quando chegou numa revista, a editora muito calma, simpática e extremamente falsa mandou-lhe sentar leu em silêncio rapidamente (nem leu direito) e perguntou-lhe:- “Você só tem esta poesia ai com você?”

Ele se viu gritando, esbofeteando a mulher, pondo fogo em seu terninho vermelho sangue, viu ele todo sujo de sangue, as coisas da sua mesa em pedaços por toda sala, mas sorriu e saiu em silêncio como um louco varrida sem desviar os olhos dela. Foi quando encontrou na saída um colunista e falou com ele na entrada do elevador... Ótimo, ele lera e não falara nada, mas ia publicar sim, num relance final viu o dito dar o texto a secretaria e dizer: “Coloquem esta poesia na minha coluna.” Em passos rápidos de corrida pesada, pegou o papel da mão da moça e berrou, idealizou o que pensara na sala da editora-chefe, foi um escândalo, não realizou somente a parte do sangue e sofrer alheio, isso porque pensou nas conseqüências negativas que isso ia lhe causar, porque vontade não lhe faltara, saiu aos berros, com o papel amassado, na verdade pelas mãos dele, mas por culpa daquele mundo burro e insensível, sentou na calçada em frente ao prédio, seu celular tocou, estava exausto, tanto ele como o celular, era apenas uma mensagem recebida, um amigo cumprimentando-o pela “poesia que muito fazia refletir”. Chorou e berrou de novo, será que era ele quem não entendia o que era poesia de verdade? Porque era o que parecia, todos diziam que era quando estava fugindo daquilo... Uma senhora catando papelão sentou-se ao lado dele: - Acalme-se filho, está muito estressado, se vai jogar este papel fora, me dê ele então para fazer uma graninha. Sem pensar duas vezes ou mais lhe deu o papel, e ela concentrada começou a ler, e ao final encantada comentou com gosto: - Ei, isso é diferente de tudo que já li, lindo, profundo, e não é poesia.

Alguém do bem lhe ouvira, que ótimo, nem tudo estava perdido, o que precisava ganhar naquela tarde, aquelas palavras tinham acabado de proporcionar. “Gostou, pode ficar”. Ela agradeceu e foi-se embora dizendo a todos ouvidos: - Que maravilha, vou dar para meu netinho ler, ele adora ‘poesias’ como esta!

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Douglas Tedesco – 10/2007

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 05/10/2007
Código do texto: T681996