Metrô nosso de cada dia

Quando pego o metrô sempre tenho algumas experiências, dolorosas, curiosas e até extracorpóreas. Primeiro, para chegar a plataforma é necessário subir uma passarela de três lances, onde uma massa de pessoas, parecendo estar compactadas, vindo na velocidade de um vagalhão, se chocam com o que encontram pela frente, na tentativa de atravessá-lo, medonho, nada menos que isso. Dia chuvoso, olho furado por guarda-chuva é bônus, pode vir ou não. Continuando o trajeto é preciso seguir o fluxo para o estrago ser menos drástico e sem maiores danos ao corpo e mente. Cotoveladas, bolsadas, e pés amassados são parte do trajeto. Quando finalmente está perto da roleta, é de praxe passar pelo teste do tímpano, que consiste em ver se o seu ainda está intacto depois do ambulante, por meses a fio, gritar no seu ouvido se o Zé tem troco para cinquenta reais, ou algo similar. Alguns gritos depois você se dirige a roleta, tomando mais umas cotoveladas, empurrões, e se equilibrando depois da última cortada que alguém deu, no intuito de alcança-la antes de você. Passando finalmente a roleta, é sábio seguir o fluxo para não ser pisoteada e xingada, torcendo para não tropeçar no pé de alguém e rolar escada abaixo. Finalmente entrando na composição lotada, você descobre que dois corpos podem sim ocupar o mesmo lugar no espaço, e sempre cabe mais um, lembrando que a falta de desodorante não é um critério contra. Não menos importante, é preciso se atentar a miscelânea de odores, inesquecíveis, indescritíveis, em dias de praia, inimagináveis, uma mistura curiosa de suor, creme de cabelo, desodorante e bronzeador.

Metrô, ame-o ou deixe-o. Deixe-o para conseguir amá-lo.

Ale Motta
Enviado por Ale Motta em 15/12/2019
Reeditado em 20/01/2020
Código do texto: T6819666
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