Minha primeira foice!
Minha primeira foice!
Estou olhando para ela pendurada na parede do muro, à minha frente. Enferrujada. Não maltratada. Corroída. Ficou perdida, coitada, tanto tempo! A encontrei esta semana, por acaso, ao rastelar um canto do curral, e ela, por encanto, surgiu. Não houve dúvidas entre eu e ela, era ela, a minha primeira foice!
Lembro-me de quando começou nossa relação. O Edmundo, é, o pai da Emerenciana, me deu e na época recomendou: ela é pesada, por isso mesmo o golpe é mais certeiro. O gavião você usa para arrastar os ramos e cortar brotos menores. Bata sempre firme e forte próximo daqui, mostrou. Não bata o cabo, a não ser que você esteja com preguiça e queira ir embora, o cabo vai quebrar! O cabo da minha primeira foice nunca quebrou!
Estou olhando para ela pendurada na parede do muro, à minha frente, enferrujada, corroída, lembrando do Edmundo, refletindo sobre o ciclo vital.
Inevitavelmente a ferrugem, o tempo corroem e esvaem, pouco a pouco, a energia vital e tal qual minha primeira foice, o organismo biológico definha e desaparece.
Mas, ainda bem que sempre tem um mas, num rastelar de um canto qualquer, no fundo de algum lugar, ainda que num final de domingo, uma imagem fugidia de uma foice enferrujada, corroída, faz reviver o que nunca morre!