Crise-hiperinflacionária-monetária-internacional

Ultimamente fala-se muito sobre o aumento do dólar e a consequência disso na cidade e no campo, nos poucos que ainda existem. A televisão interrompe a novela, o jogo ao vivo, as missas matinais e madrugais para transmitir programação especial a fim de nos explicar como a variação "dolesca" interfere em nossa vida urbana e na rural também.

Estes dias vi num desses programas um economista formado na escola de Chicago, uma das mais prestigiadas no assunto, falar sobre os fatores que influenciam no aumento do dólar, na desvalorização do Real, na taxa de juros, numa tal "balança comercial''. Foi além. Afirmou que a moeda americana dita o ritmo da economia mundial; afeta as transações entre pessoas físicas e jurídicas; demarca o valor das passagens para Nova Iorque, da carne bovina, dos produtos importados — só não deixou claro se é apenas o sol o responsável por este calor todo dos dias recentes ou se tem algo a ver com o aumento do dólar.

O especialista graduado na escola de Chicago finalizou sua entrevista (ou seria conferência?) inocentando os donos de rebanhos bovinos pelo mundo, de empresas de turismos, os empresários exportadores pela carestia do mundo, pois, segundo esse entendido em câmbio, se o preço da carne, das viagens à Disney, dos relógios Rolex aumenta, a culpa não é dos mortais que guiam a economia mundial: a culpa é do dólar. Essa elucidativa entrevista me convenceu, se tinha dúvidas, de que o mundo sem o dólar não vive. Não vive nem viaja; não come nem dorme; não importa nem exporta.

Do outro lado da tela, fiquei embasbacado, agravado por engulho, em saber o poder do dólar sobre nossa vida. A fala do perito em câmbio me fez entrever a relação direta entre o aumento do dólar e uma das doenças mais letais das últimas décadas: a crise-hiperinflacionária-monetária-internacional, que se caracteriza por ser doença gravíssima, que já matou milhões ao redor do mundo, principalmente por inanição.

O dólar aumenta, mas o salário do trabalhador não. Porque o salário do trabalhador não é corrigido pelo preço do dólar; é corrigido abaixo da inflação, que se mostra geralmente altíssima. Se o dólar aumenta, aumenta também o preço do barril de petróleo, a carne e seus derivados, as taxas de juros, o que é excelente para o empresariado e banqueiros — e péssimo para os trabalhadores, que são forçados pela crise-hiperinflacionária-monetária-internacional a substituir proteínas, diminuir as refeições diárias, parcelar as dívidas quase sempre atrasadas.

O economista formando na escola de Chicago não deixou claro se o calor de hoje tem a ver com a crise-hiperinflacionária-monetária-internacional. Eu, no entanto, suspeito que tenha. Olho a meu redor e cada dia vejo menos árvores, e muitos postes e casas de cimento e aço. Penso que o dólar financia todo esse asfalto e enterra árvores. E não estou sozinho nessa. Agora, pela manhã, ao abrir a porta para atender a um chamado da rua, encontrei a opinião de três cavalos, que — em linha, soltos, nus e em busca de sombra, encontrando pelo caminho apenas postes — me disseram que se o mundo não vive sem o dólar, as árvores nada tem a ver com isso. Árvores são de madeira, e não de carestia e safadeza.

Damião Caetano da Silva
Enviado por Damião Caetano da Silva em 14/12/2019
Reeditado em 14/12/2019
Código do texto: T6818696
Classificação de conteúdo: seguro