Homem de lata

"Quando você cresce, o seu coração morre."

O CLUBE DOS CINCO

Tédio. Marasmo. Cansaço. Em algum ponto da minha trajetória recente, fui dominado e embebido por estas palavras, as quais se tornaram meus deuses particulares: oniscientes, onipresentes, polivalentes. Não que assim eu quisesse, mas uma vez presentes, só me resta cultua-las e adora-las, performando rituais canônicos que as tornem suportáveis em minha vida. Deveria ser de outra forma? A resposta é ambígua e fraca, sem poder de suplantar a situação já instalada.

Tédio. Marasmo. Cansaço. A gênese divina não poderia ser outra se não a força do próprio hábito, desejado e idealizado - verbos no passado, notem. Porque aquilo que tanto queria, consegui, mas nem por isso mantive o entusiasmo inicial da conquista. O inusitado cedeu espaço ao esperado, e nesta dança das cadeiras, cá estou eu, entregue aos desígnios do destino criado, alquebrado por perceber que estava errado ao achar que só aquilo que vem fácil, vai fácil. Pelo contrário, descobri que mesmo o diamante apanhado no cume da montanha mais alta, após uma longa e exaustiva escalada, perde seu brilho quando domesticado por uma agenda de olhares contínuos e contato frequente. Melhor seria, pois, que tivesse sido deixado em seu recanto mágico.

Tédio. Marasmo. Cansaço. Lembretes do repetitivo e usual. Se por um lado a rotina traz estabilidade e segurança, por outro, invoca o panteão textual, deixando na boca um sabor insosso e no coração um desânimo vigoroso. Os dias passam e parecem todos iguais, indistintas marcas no calendário, sem nada de precioso ou especial. O que fica é a sensação de não aproveitar a vida, combalida e derrotada pelo ordinário, responsável pela automatização do comportamento, de modo a tornar máquina aquilo que um dia foi humano.