De volta dos dezessete
Hoje faz dezessete que tinha dezessete. E como queria que me voltassem aqueles. Não queria, porém, que fossem sem estes: queria ter a idade que tive com a cabeça que tenho.
Coisa estranha... Tem-se a condição ideal numa época que não se sabe; sabe-se mais da vida quando as condições já são cruéis.
Problema não. Refugio-me na imaginação e volto àquele tempo. Corro como um doido pelos pastos da roça em que cresci, arrumo-me no sábado para ir aos bailes, treino direção e sonho com a carteira de motorista, penso em faculdade e em jogar futebol ao mesmo tempo, sou responsável e insano, num instante só.
Mas imaginação não dura. É efêmera. Logo meus trinta e quatro me caem pesados e sinto dores de corpo que me acusam riscos vindouros. Também sinto dores de perdas de pessoas que, aos dezessete, julgava eternas.
O calendário marca agosto de 2009. Em trinta anos terei a idade em que minha mãe faleceu. Já passei, pois, da metade.