ERA UMA VEZ... UMA ESCOLA !

ERA UMA VEZ... UMA ESCOLA !

Um pensador qualquer declarou, babando de inveja, que "só escreve as suas Memórias quem não tem História" (ou seria... memória ?) mas contraponho afirmando que narramos fatos antigos tão-somente para quem os viveu ou conheceu, essas gostosas recordações são mais um prazer na Vida. No meu caso -- e nesse caso -- descrevo minha vivência na antiga 'Escolas Reunidas São João Batista" apenas para os novos alunos professoras que, por sua vez, podem ter sido alunas desse belíssimo colégio. Desconheço de onde veio o "Reunidas", jamais soube de uma filial da Escola. A ala principal era de alvenaria, paredes grossas, brancas com frisos e janelões em marrom escuro... me parece que o prédio teria "meio porão", espaço sob o assoalho de madeira nobre com o propósito de arejar e impedir o apodrecimento do piso. Na entrada, corredor de tijolos em T, jardins a ladear a passarela. Duas grandes salas de aula para os níveis maiores (3º e 4º anos do Primário), as Séries iniciais estudavam em casas de madeira no final do terreno. Na parte de cima, à esquerda, ficava o dormitório das Irmãs e na direita o dos garotos. Em 1962, com internato misto, desconheço onde dormiam as meninas. Parece mentira mas banho completo só nos sábados de tarde, nos demais dias era lavar os pés de noite e o rosto pela manhã, água cristalizada pelo frio noturno, um suplício, o nariz vermelho doendo horrores devido ao frio intenso, raros usavam gorros de lã, alguns só cachecol e ninguém tinha luvas. Atrás do prédio principal havia um casarão de madeira que abrigava na frente o refeitório dos meninos e a sala de estudos, com a cozinha ao fundo. Adiante, em separado, outro casarão igual em tamanho, esse com amplo sótão onde guardavam velharias, o tamborzão de óleo vegetal ganho da Aliança para o Progresso (dos EUA) e outro de leite em pó, que arrombamos e que "fazia a festa" da gurizada, comendo mãozadas o dia inteiro. Após o casarão existia modesta saleta, "escritório" da Irmã Edwiges, já passada dos 70... era enfermaria, ateliê, sala de bordados e não sei mais o quê. Depois disso, um matagal medonho, espécie de pântano a perder de vista. No quintal em frente, robusta árvore indefinida e 4 ou 5 banheiros de alvenaria, com a lavanderia funcionando logo atrás, tendo fonte natural a jorrar água em abundância. Essa é a breve descrição do prédio que abrigou os sonhos e esperanças de centenas de infantes nesses 60 ou 70 anos de frutífera existência. Construído num platô, a Igreja matriz a seu lado ficava uns 2 metros acima do nível do terreno e, do outro lado, a cocheira do casal de bovinos (não lembro se tinha cavalos, criava-se porcos, eu acho), o milharal e o potreiro estavam em desnível, uns 3 ou 4 metros abaixo. Num valão mais adiante havia um moinho de beiju, desconheço se pertenceria ao colégio. É claro que 55 anos depois tudo deve estar bastante mudado... porém a memória senil não apagou 1 cm sequer desse cenário de sonho que mantém intacto o velho Colégio em meu coração. Talvez o Destino --- sou fatalista -- me permita rever o esplendoroso colégio em que a modesta ESCOLAS REUNIDAS se transformou. Vamos aguardar !   

 "NATO" AZEVEDO (em 10/dez. 2019, 15hs)

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AMARGO FIM

I

Eu fui árvore florida,

a maior desta floresta...

minha morte foi sentida,

as aves faziam festa

I I

na copada, nos meus braços,

"dançando" sobre meus pés !

Se escondendo do mormaço

junto com os pangarés.

I I I

Virei tábua, cama, mesa

e até caixão -- que tristeza --

para servir lares finos.

I V

Hoje só resta a lembrança

de toda a minha pujança...

como é cruel o Destino !

"NATO" AZEVEDO

(10/dez. 2019, 6hs)

OBS: homenagem aos cedros

que havia no pátio do colégio,

na infância (nos anos 1961/64)

cortados para ampliar o prédio.