RELEMBRANDO UMA TRAGÉDIA DE 2015
“Gritaram... Quando olhei, vi a lama descendo e a poeira subindo... Fui para dentro de casa e peguei meus filhos, de 1 e 4 anos, e corri pela rua com os dois ... vi um caminhão, que estava cheio de crianças. O povo em cima pegava as crianças que a gente jogava pelos braços ... Então entrei no caminhão também”.
“Corre, corre, que a barragem arrebentou... hoje é o fim do mundo” – disse um homem ao ver a barragem se romper. Uma mulher fez eco ao desespero no refeitório da escola de Bento Rodrigues quando viu gente correndo, idosos carregados nos braços, crianças chorando em desespero. Juntou as filhas e correu para o lugar mais alto do povoado até ser levada para um hotel em Mariana.
Um morador anônimo disse, logo após a tragédia de Mariana: "Sempre tivemos medo da barragem. Quando chovia muito então a gente ficava com medo dela ... Não ligaram, não acionaram alarmes, só sei de uma moradora que recebeu o telefonema da mãe que trabalhava na empresa.”
E havia muito mais gente anônima dentro dessa história sem fim: a dona de casa preocupada com o cão que desapareceu, o produtor de leite cujas vacas não têm mais o capim que comer ou a mãe preocupada com a chegada das crianças no ônibus escolar em seu sacrificado périplo. Na maioria, conformados. Coube somente aos mais astutos reivindicar a união do povo para buscar seus direitos.
Em certo momento de desespero não havia mais rosto nem vozes. Exceto o lamento da agricultora: “Perdemos galinhas, patos, uma roçadeira, plantações de mandioca, milho, feijão e enxadas. Os patos quando andam na lama dão uma pirueta e caem mortos”.
Os primeiros relatos dos moradores recém abrigados na Arena Mariana pareciam epopéias de eventos tão heróicos quanto trágicos. A dona de casa contou: “parecia que o mundo estava acabando”. Ela e o filho de 35 anos fugiram apenas com os documentos e a roupa do corpo. Outra disse: “o filho da vizinha, de 3 anos, foi salvo pelos latidos de um cachorro de outro vizinho”. O cão também se tornou hóspede da Arena.
Quando a quinta vítima foi identificada a imprensa registrou mais um desabafo de mãe: “não consigo comer nem dormir; metade de minha vida foi embora. Não consigo lavar uma roupa e até mesmo fazer comida.” Sobreviventes atordoados só sabiam dizer: “não sei dizer o que será daqui para frente.” Ou: “fomos ao hospital e nos mandaram de volta. A esposa dele tem dois filhos e está desesperada, em estado de choque.”
Os mais velhos diziam: “era um lugar tão bom... agora os comerciantes perderam tudo e ficaram com dívidas”. Os mais destituídos informavam: “sem dinheiro, sem documento, sem nada; perda total, nada sobrou de minha casa.” E quem não era de chorar disse simplesmente: “vou voltar para a fazenda e dormir no curral.”
Essas coisas aconteceram em 5 de novembro de 2015. Depois disso pouca coisa mudou. Ou nada mudou? Futuro, incerto.
“Gritaram... Quando olhei, vi a lama descendo e a poeira subindo... Fui para dentro de casa e peguei meus filhos, de 1 e 4 anos, e corri pela rua com os dois ... vi um caminhão, que estava cheio de crianças. O povo em cima pegava as crianças que a gente jogava pelos braços ... Então entrei no caminhão também”.
“Corre, corre, que a barragem arrebentou... hoje é o fim do mundo” – disse um homem ao ver a barragem se romper. Uma mulher fez eco ao desespero no refeitório da escola de Bento Rodrigues quando viu gente correndo, idosos carregados nos braços, crianças chorando em desespero. Juntou as filhas e correu para o lugar mais alto do povoado até ser levada para um hotel em Mariana.
Um morador anônimo disse, logo após a tragédia de Mariana: "Sempre tivemos medo da barragem. Quando chovia muito então a gente ficava com medo dela ... Não ligaram, não acionaram alarmes, só sei de uma moradora que recebeu o telefonema da mãe que trabalhava na empresa.”
E havia muito mais gente anônima dentro dessa história sem fim: a dona de casa preocupada com o cão que desapareceu, o produtor de leite cujas vacas não têm mais o capim que comer ou a mãe preocupada com a chegada das crianças no ônibus escolar em seu sacrificado périplo. Na maioria, conformados. Coube somente aos mais astutos reivindicar a união do povo para buscar seus direitos.
Em certo momento de desespero não havia mais rosto nem vozes. Exceto o lamento da agricultora: “Perdemos galinhas, patos, uma roçadeira, plantações de mandioca, milho, feijão e enxadas. Os patos quando andam na lama dão uma pirueta e caem mortos”.
Os primeiros relatos dos moradores recém abrigados na Arena Mariana pareciam epopéias de eventos tão heróicos quanto trágicos. A dona de casa contou: “parecia que o mundo estava acabando”. Ela e o filho de 35 anos fugiram apenas com os documentos e a roupa do corpo. Outra disse: “o filho da vizinha, de 3 anos, foi salvo pelos latidos de um cachorro de outro vizinho”. O cão também se tornou hóspede da Arena.
Quando a quinta vítima foi identificada a imprensa registrou mais um desabafo de mãe: “não consigo comer nem dormir; metade de minha vida foi embora. Não consigo lavar uma roupa e até mesmo fazer comida.” Sobreviventes atordoados só sabiam dizer: “não sei dizer o que será daqui para frente.” Ou: “fomos ao hospital e nos mandaram de volta. A esposa dele tem dois filhos e está desesperada, em estado de choque.”
Os mais velhos diziam: “era um lugar tão bom... agora os comerciantes perderam tudo e ficaram com dívidas”. Os mais destituídos informavam: “sem dinheiro, sem documento, sem nada; perda total, nada sobrou de minha casa.” E quem não era de chorar disse simplesmente: “vou voltar para a fazenda e dormir no curral.”
Essas coisas aconteceram em 5 de novembro de 2015. Depois disso pouca coisa mudou. Ou nada mudou? Futuro, incerto.