MULHER DE MILITAR
A vida da caserna e outras atividades afins daqueles que escolheram a carreira militar, às vezes, trazem contratempos a estes e às suas famílias.
Sou viúva de militar do exército. Conheço um pouco de sua rotina e fiz amigos e amigas nesse meio.
A dura disciplina que transfere o soldado ou oficial para pontos longínquos do país ou que os envia para demoradas e arriscadas missões no exterior tem desfeito muitos lares.
Uma amiga, Lúcia, esposa de Pedro Paulo, ambos de Belém do Pará, me contava que assim que o marido terminou seu curso na Academia Militar e eles se casaram, Pedro Paulo foi transferido para um pequeno destacamento em povoado nos confins da Amazônia, fronteira com a Guiana Francesa. Lugar isolado, onde além do posto militar havia poucas casas de civis, comércio quase inexistente e nenhuma diversão. As casas dos militares eram muito simples, pouco conforto; a energia elétrica, de gerador, era desligada às 21 h. Forçosamente tinham que dormir cedo. A televisão, que pegava mal, era o único luxo. Lúcia, moça com curso superior, acostumada à cidade grande, se ressentia do isolamento, da solidão. Convivia apenas com o marido e uma ou outra esposa de militar. Certo dia queixou-se a Pedro Paulo de que não aguentava mais aquela vida. Sentia falta da família. E o que ele lhe disse?
“Trate de acostumar-se. Sou um militar, sujeito a estas transferências. Devo lealdade e obediência a meus superiores. Você sabia disso quando se casou comigo! Sua família agora sou eu!”
Ela me disse que ficou envergonhada, era muito jovem. Dali em diante procurou se ocupar de coisas interessantes e úteis para a comunidade e assim superou esse e outros obstáculos, até mudarem-se para um lugar com mais recursos.
Mas há outras que não conseguem entender e nem enfrentar esses desafios. Sônia se casou também com um militar e quando este chegou ao posto de Major, foi enviado para uma missão no exterior, onde deveria permanecer por 1 ano. Sônia não aceitou a situação. Ficou no Brasil, só, com três crianças pequenas. Deixava os meninos com a mãe ou a sogra e saia todo fim de semana para se divertir em cafés, bares, cinemas, baladas... O casamento ruiu. Assim que o marido voltou se divorciaram.
Comigo não houve nenhuma ruptura nem conflito com a vida militar. Soubemos sempre apaziguar esses dissabores da maneira mais sensata possível. Talvez devido à dura disciplina do quartel, meu marido gostava das refeições sempre na hora certa. Almoço às 12 h e jantar às 19 h. Com essa rigidez tive que acostumar-me, mas não foi um sacrifício. Ainda bem que, em casa, não tínhamos que levantar ao toque da alvorada...
Outro fato: Em uma ocasião, rompeu-se um cano que alimentava a caixa d’água de nosso prédio. Como morávamos no último andar, o apartamento ficou completamente alagado. Molhou tudo: camas, roupas, móveis, livros, documentos...Perdemos algumas coisas mas nada que tirasse a calma de meu marido. Eu fiquei absolutamente fora de mim! Quando lhe perguntei, furiosa:
“Você nunca fica em pânico?” Ele me respondeu:
“Fui treinado para jamais entrar em pânico! Imagine em uma guerra...”
Para mim foi uma lição, encarei com bom humor. A vida seguiu seu curso e nosso casamento feliz durou até ele falecer em 2013.
Sou viúva de militar do exército. Conheço um pouco de sua rotina e fiz amigos e amigas nesse meio.
A dura disciplina que transfere o soldado ou oficial para pontos longínquos do país ou que os envia para demoradas e arriscadas missões no exterior tem desfeito muitos lares.
Uma amiga, Lúcia, esposa de Pedro Paulo, ambos de Belém do Pará, me contava que assim que o marido terminou seu curso na Academia Militar e eles se casaram, Pedro Paulo foi transferido para um pequeno destacamento em povoado nos confins da Amazônia, fronteira com a Guiana Francesa. Lugar isolado, onde além do posto militar havia poucas casas de civis, comércio quase inexistente e nenhuma diversão. As casas dos militares eram muito simples, pouco conforto; a energia elétrica, de gerador, era desligada às 21 h. Forçosamente tinham que dormir cedo. A televisão, que pegava mal, era o único luxo. Lúcia, moça com curso superior, acostumada à cidade grande, se ressentia do isolamento, da solidão. Convivia apenas com o marido e uma ou outra esposa de militar. Certo dia queixou-se a Pedro Paulo de que não aguentava mais aquela vida. Sentia falta da família. E o que ele lhe disse?
“Trate de acostumar-se. Sou um militar, sujeito a estas transferências. Devo lealdade e obediência a meus superiores. Você sabia disso quando se casou comigo! Sua família agora sou eu!”
Ela me disse que ficou envergonhada, era muito jovem. Dali em diante procurou se ocupar de coisas interessantes e úteis para a comunidade e assim superou esse e outros obstáculos, até mudarem-se para um lugar com mais recursos.
Mas há outras que não conseguem entender e nem enfrentar esses desafios. Sônia se casou também com um militar e quando este chegou ao posto de Major, foi enviado para uma missão no exterior, onde deveria permanecer por 1 ano. Sônia não aceitou a situação. Ficou no Brasil, só, com três crianças pequenas. Deixava os meninos com a mãe ou a sogra e saia todo fim de semana para se divertir em cafés, bares, cinemas, baladas... O casamento ruiu. Assim que o marido voltou se divorciaram.
Comigo não houve nenhuma ruptura nem conflito com a vida militar. Soubemos sempre apaziguar esses dissabores da maneira mais sensata possível. Talvez devido à dura disciplina do quartel, meu marido gostava das refeições sempre na hora certa. Almoço às 12 h e jantar às 19 h. Com essa rigidez tive que acostumar-me, mas não foi um sacrifício. Ainda bem que, em casa, não tínhamos que levantar ao toque da alvorada...
Outro fato: Em uma ocasião, rompeu-se um cano que alimentava a caixa d’água de nosso prédio. Como morávamos no último andar, o apartamento ficou completamente alagado. Molhou tudo: camas, roupas, móveis, livros, documentos...Perdemos algumas coisas mas nada que tirasse a calma de meu marido. Eu fiquei absolutamente fora de mim! Quando lhe perguntei, furiosa:
“Você nunca fica em pânico?” Ele me respondeu:
“Fui treinado para jamais entrar em pânico! Imagine em uma guerra...”
Para mim foi uma lição, encarei com bom humor. A vida seguiu seu curso e nosso casamento feliz durou até ele falecer em 2013.