Brinquedo
Ainda guardo comigo os doces sorrisos que me abriste quando me deste aquele modesto presente num passado remoto: um carrinho de controle remoto, embrulhado com carinho num papel-presente barato.
Àquela época eu não sabia o que era trabalho, aguardente, mais-valia, dialética, diarréia, salário; não entendia o valor do dinheiro, a dor das dívidas, do desemprego; não, não havia melancolia, insônia, ânsia de vômito, desespero, ansiedade, depressão...
Mas sentia a maior felicidade do mundo inteiro quando, ao final da tarde, meu pai, com seus calos de pedreiro, aparecia diante do portão com o cansaço no rosto e uma sacola pendurada no braço direito: era o seu jeito rústico, bruto e verdadeiro de dizer o Eu te Amo mais poético do Universo - não em forma de verso, nem de abraço - mas num gesto único, singelo, de (me dar um) brinquedo…