Imanente a si mesma é Clarice.
“O relógio bate nove horas” *
Foi nesse instante de um sábado, que descobri e testamentei minha teoria sobre a ligação entre Clarice Lispector e o filósofo Baruch Espinoza, através de um prefácio de Benjamin Moser em uma coletânea de contos dela.
Essa, brilhante e atemporal, escritora é detentora de uma metafísica profunda que transpassa toda a essência de sua obra, como se o próprio Ser imanente e causa sui adentrasse e conectasse cada um de seus personagens.
Lispector criou uma metáfora da própria vida onde ela, a causa sui de sua literatura, é também imanente aos seus escritos, interligando seu próprio mundo numa trama ontológica fazendo da existência de seus personagens uma analogia onde ela mesma é natura naturans ao criar e natura naturata ao viver imersa na ânsia deles e em suas próprias reflexões, enquanto delas se separa.
Tal descoberta, aparentemente ínfima, me fez refletir sobre todo o fascínio que cultivo por essa mulher, mãe, esposa e, acima de tudo, escritora do Ser, da Coisa, como ela mesma cita em algumas ocasiões. Pois, a Coisa é ela mesma e dela depende como uma deusa de uma existência onisciente que transborda, emana e justifica, gloriosamente, quem ela é.
Não me esforçarei em citar nenhuma obra desta autora fascinante pra justificar o que digo. Pois, absolutamente nada do que eu escreva irá retratar de forma fidedigna quem é Clarice. Leiam-na e descubram por si mesmos a metamorfose que é a fêmea absoluta e eterna da literatura universal.
07 de dezembro de 2019.
*(Clarice Lispector, conto O triunfo).