No primário
Fazia a 5ª série, o então curso primário – ele não mais existe, foi extinto – havia um colega.
Bem, citarei o nome do Grupo Escolar (escola pública) onde estudei o primário.
O "Augusto Olímpio" - até hoje o prédio é o mesmo.
Está em estado precário de conservação.
Educação não tem tanto peso assim neste país. Não há interesse. Infelizmente. Se diz que manter o (a) cidadão (ã) desinformado, sem acesso ao saber, ao conhecimento, é bom para os maus políticos.
É mais fácil enganar politicamente os sem formação, os deseducados.
Esse colega chamava-se (ou chama-se, não se está vivo) Benedito.
Tinha boca um pouco grande, beiços grossos. Falava pouco, não sei por quê. Talvez por timidez, ou outro motivo.
Ou simplesmente por não gostar de falar. Preferia escutar.
Na semana, faltava um ou dois dias de aula. Na segunda-feira não aparecia. Isso era rotina.
Também na sexta.
No recreio, permanecia na cadeira, sentado, lendo alguma coisa. Às vezes ia ao banheiro, só isso. Foi, porém, o melhor em Matemática. Dias de prova, ia. Não faltava.
Professora Helena, morena, um pouco baixinha, cabelos curtos, lembro dela. Era a grande mestra.
Para os alunos a maior expectativa, creio que até hoje seja assim, era o dia da entrega das provas.
As provas nos causavam grande tensão. Coisa comum.
Certamente em qualquer escola do mundo é assim.
Eram Português, Geografia, Ciências, História do Brasil – são as que me recordo agora.
A grande preocupação mesmo era com a Matemática. Eu não fui – e nem sou – bom na matéria. Os números, contas, sinais, divisão, multiplicação, MMC, MDC, raiz quadrada, me foram sacrificantes.
Osso duro de roer. Minha cabeça é pequena para tudo isso.
Professora Helena começava a chamar, aluno (a) por aluno (a). E entregava as provas. E eis, a Matemática: as notas em vermelho, já se sabia, estavam abaixo de 5 (as notas iam de 0 a 10). Grande parte.
Eu, às vezes, escapava, com 5. Ou 6 ou 6,5.
Haja aluno escondendo a prova, dando um jeito para ninguém ver o vexame – a nota vermelha.
E o amigo, Benedito, tranquilo. Recebia a prova (Matemática). E a nota: 9 ou 9,5 ou 10. Guardava a prova, ficava quieto. Os colegas, lógico, o admiravam pelo bom desempenho.
O tempo passou. Terminamos o primário. Cada um para o seu lado. Benedito também, tomou o rumo dele. Não mais o vi.
Não sei se aproveitou o dom de lidar bem com números.
Nem mais vi a meiga professora Maria Helena, baixinha (nem tanto), morena, dedicada. Cabelos baixos, curtos. A achava atraente.