O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA

Depois de trabalhar 4 meses dia e noite praticamente, meus calos tinham aumentado e as latas de leite Ninho cheias de dinheiro também, já tinha quatro, como não tinha noção de nada, meu mundo era só trabalho, não sabia o que fazer com o dinheiro, de tanto pensar em o que fazer com o dinheiro, cheguei a seguinte conclusão, vou gasta-lo, uma conclusão obvia. - Mestre Raimundo hoje (sábado) vou à rua gastar minhas latas - falei pro mestre - Muito bem já era hora de você gastar alguma coisa, seu mão de vaca - retrucou o mestre sorrindo - Mas não gaste tudo, guarde a metade. Bem cedo peguei o rumo da rua, era uma légua, peguei uma lata de leite cheia de dinheiro, coloquei num saco, enfiei a peixeira na cintura (por precaução), e me mandei pra rua, eita como eu tava feliz, ia virar gastador de dinheiro. A primeira coisa que eu comprei pra mim foi uma mala, era linda, toda amarela com uns desenhos de risco preto, menino agora eu tinha virado gente mesmo, já tinha uma mala, uma chave e um mundão pra viajar, quer dizer o mundão era Mombaça. Ia me esquecendo, na ida pro centro um magrela camela seca tentou me assaltar com um canivete, quando puxei minha peixeira de 10 o cabra saiu correndo mais veloz do que corisco, acho que ainda ta correndo até hoje, aquilo lá era tamanho de faca pra se assaltar. Comprei a mala, depois comprei umas cuecas (coisa de baitolas) mas o mestre falou que eu tinha que usar, comprei um Kichute, umas meias (acho que elas não vão entrar no meu pé cheio de calos não), umas camisas bailon gola role (num sei nem o que era, mas foi assim que o vendedor falou), uma camisa volta ao mundo, um cavalo de aço e uma calça Lee. Eita menino, mas eu tava mais lindo do que a bestilha do Manelzinho. Depois de comprar a rouparada toda chegou o grande momento, alias os dois grandes momentos, comprar minha bicicleta Monark barra circular vermelha e meu relógio automático Orient três orelhas. Eita macho! Era muito felicidade, eu andando de volta pra obra, na minha bicicleta, com a mala na garupa e o relógio três orelhas, cada pedalada era um sorriso e o relógio pegava mais corda, de vez por outra eu sacudia o braço como rabo de cascavel pro bicho pegar corda, e pedalava a barra circular, eita mundo de felicidade, nunca mais tive outro dia desse.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 07/12/2019
Código do texto: T6812928
Classificação de conteúdo: seguro