Motivação  do Escritor Suicida
 
A morte foi óbvia. Suicídio com tiro. Qual o motivo? Delírios literários,  pode ser?!
 
“Foram esboçados nelas todos os gestos malditos: até os furtos fracassados e os interrompidos assassinatos. Mãos que fugiram da suprema purificação dos possíveis suicídios.”
 
Esta estrofe de seu poema O Defunto prenuncia o ato final do escritor já em sua juventude. Suas mãos fugiram “da suprema purificação” e o autor tornou-se um octogenário quando concretizou o ato mórbido.
 
Ele era um maníaco depressivo vintage ou moderno bipolar? Como queiram os psiquiatras.
Inferno? Inferno são os outros. Que levantam motivos sem sentirem, viverem  alheias  angústias.
Falou-se de sua sexualidade.
 
Na época do ocorrido vigiava-se o que distanciasse do sexo comportado. Quem não correspondesse às normas traçadas para o bom comportamento e “da moral cristã” era exilado ou asilado nos hospícios. Há quem preferia se matar por sentir vergonha.
 
As neuroses inventam céus premiados, infernos punitivos  e limbos remissivos.
Os transtornados se matam ou se deixam morrer.
Os psicopatas matam se não conseguem tirar vantagem.
 
Ouvindo os galos cantarem nas tristes madrugadas, trevas senis, o escritor memoriza suas saudades de forma literária.
O telefone tocou.
Silenciou.
O escritor reclamou: “nunca ouvi tamanha obscenidade”.  Foi para a rua com revolver na mão e se deu um tiro.
 
Por quê?
 
Sexo ou excesso de anos?  Não  vai aqui nenhum trocadilho adverte o cronista.
 
Naquela noite o canto do galo foi um disparo de revolver.
 
O memorialista adormeceu como criança com canção de ninar.
Durma em paz Pedrinho!
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 05/12/2019
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 06/12/2019
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