MINHA GATA, MEU AMOR!

Nina, minha felina preferida, saiu ontem à noite e não voltou. O que me chegou foi a triste notícia.

Ela não vai voltar.

Não vai mais me chamar de madrugada pra eu abrir a janela pra ela entrar.

Não vai mais me trazer presentes (minha caçadora, de hábitos noturnos, próprios dos gatos, me trazia presentes: calango, catita, víbora, peixe, morcego... sim, ela trouxe um morcego!

Não vai mais dormir na minha cama, no armário da cozinha, no guarda-roupa, na máquina de lavar, na gaveta das toalhas.

Não vai mais esperar a Gabi chegar da igreja pra roçar em suas pernas pedindo comida.

Não vai mais saltar por aí, indo longe, deixando a gente preocupada (saía a noitinha e retornava amanhecendo o dia).

Ela era diferente das outras, Maya e Menina, que passam o tempo dentro de casa. Criada pela mãe felina, com ela saltava os muros pelos quintais da vizinhança. Depois que a mãe morreu, seguiu nas suas andanças, independente, majestosa, às vezes desafiando a sorte.

Embora houvesse o risco de cair nas garras das cachorras, o trio selvagem que matou sua mãe, Nina parecia não se dar conta disso. Ou não se preocupava. Ou contou com suas sete vidas. Ou preferiu viver livremente, cada dia como sendo o último. E eu, claro, não podia prendê-la, não era justo.

Disseram-me que depois da castração ela ficaria caseira e mais calma. Nada disso! Não abriu mão da rua de jeito nenhum. Totalmente desapegada, plena e soberana. E eu acreditava na sua esperteza; pensei que sempre saberia se defender.

“Você é minha ‘peferida’, viu!”

Eu dizia isso a ela, pedindo que não deixasse as outras saberem. Nunca escondi isso de ninguém. Ela foi a primeira a conviver com a gente, como membro da família, fazendo parte de tudo o que a gente viveu. Foram três anos. Aprendi tanto com ela! Fizemos bolo de aniversário pra ela. Fizemos fotos com meu vestido do batizado!

Nina me fez companhia em leituras; em trabalhos acadêmicos; em momentos de relaxamento, ouvindo música...

Ela é tema de um livro que iniciei há algum tempo (intitulei o arquivo no meu pendrive “Projeto Nina”). Uma narrativa sobre minha experiência com os felinos. Um dos textos que compõem o livro/projeto foi publicado no jornal, com direito à foto e tudo!

[...]

Eu vou sentir muita falta dela, meu amor de quatro patinhas. Deve ter um céu para os animais e eu espero que nele ela reencontre sua mãe e seus irmãozinhos. Por aqui, a gente vai aprendendo a lidar com esse sentimentozinho cruel que, no momento, dói e faz chorar.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 06/12/2019
Reeditado em 06/12/2019
Código do texto: T6812097
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