Gibis
Aqui na cidade, cidade das mangueiras, nos tempos de moleque, garoto – já há bom tempo, ah! o tempo corre rápido – havia o cinema Independência. Não mais existe. Agora, no local, um edifício, esses de classe média alta. Bem, tudo passa, vai embora.
Ficava ele (cinema) na Avenida Independência – nome este altivo, importante, de grande significado para o povo, para o cidadão.
Mas o nome acabou mudado, infelizmente. O trocaram para pôr o nome de um ex-governador. Coisa de politicagem.
O cinema foi local marcante para os moleques de então. Um deles eu. Recordo, nos sábados e domingos à tarde rolavam sessões.
Começavam ali, pelas 4 da tarde, a primeira. À porta, no calçadão, alguns vendedores de “sangue de boi” – nome dos sucos feitos não sei de quê, eram vermelhos, como sangue. Sabores de morango, groselha.
O complemento era pão doce.
E outros vendedores de picolés, bombons, quebra-queixo, “engasga-gato” (pastéis de um, dois dias).
Aquilo enchia a barriga, tufava no estômago. Ficava empachado.
E as trocas de gibis (revista em quadrinhos). Cada moleque levava três, quatro revistas. E trocava com o outro. Gibis do Tarzan, Fantasma, Zorro e Tonto, Cavaleiro Negro – e outros.
O “bang bang” americano teve sua era dourada, não apenas aqui, neste nossa calorenta cidade – mas em todo Brasil, de ponta à ponta.
A turma gostava de filmes com índios (estes, coitados, sempre levavam a pior. Eram massacrados).
Tempos bacanas aqueles, de moleque. Fim da sessão. Vínhamos em grupo, uns 5, 6. Próxima, no caminho, havia uma pracinha, a Floriano Peixoto. A turma parava lá. Nela um monumento dele, Floriano, de bronze.
Sentado, ali, mão esquerda no queixo, imóvel.