Camarão não é a mãe
Texto VII
(Por Erick Bernardes)
É normal iniciar uma crônica pondo em xeque o nome do crustáceo com o qual certo bairro gonçalense foi batizado? Claro que não, principalmente se o tal fruto do mar é o nosso saboroso camarão. Pois é, o leitor talvez dirá que o cronista tem porcaria na cabeça, que a analogia é besta, coisas desse tipo. Mas, fazer o quê, se é do bairro Camarão que estou falando?
Confesso ter passado ao largo da real história sobre as redondezas do Camarão. Região bacana, em que começa a rua da caminhada, onde tantas gordurinhas tentei perder (mas ficou só na tentativa). Juro ter imaginado ser o tal topônimo homenagem à atividade de comércio de pescado existente nas vizinhanças. Sim, é característica do lugar a movimentação de pescadores e peixeiros por causa da proximidade com a Guanabara. Tem fábrica de sardinha tradicional no Gradim e no Porto Velho. Sem contar o Porto da Pedra e o Porto Novo que também margeiam a baía. Natural pensar assim, quem saberia dizer se não era homenagem ao camarão vendido nas barracas do Paraíso? Triste engano, equivocada ideia. Eu e essa mania de supor as coisas! Contudo, juro ter existido um tal senhor chamado Alfredo Camarão, dono das terras de lá. Isso mesmo, trazia na certidão a marca da significação crustácea. Desta vez, certifiquei-me, pesquisei o nome de origem familiar. Confirmo: o próprio pai Alfredo rendeu o atributo de batismo às filhas Luiza e Ana — também elas traziam consigo “Camarão” no nome. Daí por diante, lotearam o espaço familiar dando ensejo ao bairro que me fez refletir errado. Eu, hein, pareço que tenho titica na cabeça, nada a ver com o caríssimo fruto do mar.
Bom, historicamente referem ao ano de 1950 como o começo do loteamento. Registros dão conta de mais de 300 lotes postos à venda pela famosa Imobiliária São Gonçalo. No passado, as terras em que o bairro fora instituído faziam limites com os terrenos dos Srs. Ismael Branco e Amilce Branco. Contudo, hoje em dia, as ruas Rodrigues da Fonseca, Zélio de Morais, Capitão João Manoel e o saudoso Abílio José de Mattos fazem as suas respectivas e invisíveis fronteiras.
E fica assim, explicada e verdadeira a história do bairro, nada de bichinhos marítimos, coisas da minha cabeça. Alfredo Camarão foi o pai, adeus à minha ficção de motivação crustácea.