Itaúna e a lenda do vulcão gonçalense

Texto VI

(Por Erick Bernardes)

Juro que não se trata aqui de propaganda de banco popular com emblema contendo cinco estrelas. Falo do bairro mais mitológico que já conheci, refiro-me a Itaúna, mencionado na ciência por causa do seu maciço desde muito considerado vulcânico.

Pois é, desnecessário afirmar que gonçalense costuma relacionar todo lugar que traz “Ita” no nome às famosas praias de Niterói. Isso mesmo, na melhor das hipóteses lembram da nossa Ilha de Itaoca. Se o surfista pensa em onda boa, corre lá pra Itacoatiara. Acaso precise de praia mais “flat”, haverá ônibus que o ampare — e terá bom acesso às areias de Itaipu. Por outro lado, se o amante da natureza pretende só olhar o mar, devido ao perigo proveniente da arrebentação, melhor é convidá-lo a prestigiar a caudalosa Itaipuaçu — e fazer morrer de inveja um tal ex-prefeito do Rio.

Bem, mas falemos da nossa Itaúna. Recordo de um ou dois sabichões de esquina jurando haver certo vulcão desativado em São Gonçalo. Pois é, na referência, o registro em língua tupi significará pedra preta, dito e feito, rocha escura. Também não foram poucas as vezes em que se ouviu por aí sobre um morro de lava petrificada de onde saltadores de parapente se lançavam no céu de São Gonçalo. E não é que eu acreditei? Aliás, reconheço, ainda acredito um pouco. Impossível não se permitir acreditar, interessante história, narrativa que me caiu bem ao espírito.

Tempos recentes, lendo em artigo de universidade famosa, deparo com a falácia da pedra preta, quer dizer, Itaúna, no feminino mesmo. Nada de propaganda de banco. E eis que me surge a infeliz revelação: em Itaúna jamais teve erupção vulcânica, nada de lava expelida no passado. De fato não existiu. Sei lá de onde o povo tirou isso. Maldito artigo acadêmico, pôs abaixo todo meu romantismo nativo. Estava assim desmentida e estampada na revista de geociências: “o maciço de Itaúna não é vulcão, de acordo com a geologia”.

Em resumo, o que há são histórias de rochas simples, pedra preta comum, sem lenda. Itaúna, terreno elevado e fim da minha ingenuidade.

* Quem quiser acessar o tal artigo que transforma em cinzas a lenda do vulcão gonçalense, é só copiar a referência e colar no buscador: Akihisa MOTOKI; Susana Eleonora SICHEL; Rodrigo SOARES; José Luiz Peixoto NEVES; José Ribeiro AIRES - GEOLOGICAL, LITHOLOGICAL, AND PETROGRAPHICAL CHARACTERISTCS OF THE ITAÚNA ALKALINE INTRUSIVE COMPLEX, SÃO GONÇALO, STATE OF RIO DE JANEIRO, BRAZIL, WITH SPECIAL ATTENTION OF ITS EMPLACE MODE. (31 - 42). 8.365 KB.

Erick Bernardes
Enviado por Erick Bernardes em 02/12/2019
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