As Sombras
As sombras
Cassia Caryne - 18/11/2019
Estou na cama, lendo um livro novo que comprei outro dia. Hoje choveu copiosamente e refrescou, por isso as janelas estão fechadas. Por isso, não vejo as folhas do coquerinho novo do jardim, balançando fraquinho, porque na minha cidade não venta não. O quarto escuro, só com o facho de luz do abajur. Retirei-o de cima do criado-mudo e o coloquei deitado entre este e a cama, de modo que alumia somente o livro. Passo os olhos e os pensamentos pelas folhas cheirosas do livro. Gosto de sentir o seu odor. De repente, olho para o teto e observo que o livro faz sombra nele. Então, comecei a brincar. Fiz um pássaro batendo delicadamente suas asas. Já ganhou muita altura, pode até planar de vez em quando... deslizo a sombra devagar, sem bater as asas. Depois, ouço o ladrar de um cachorro da vizinhança e faço um cachorro de sombra. Ele late, separo os dedos para fazer a boca do cão, latindo na frequência do cachorro de verdade. Faço um coração... foi difícil até que ficasse perfeitinho, mas acertei. Poeta adora coração, não posso ser condenada por isso. Fiz movimentos delicados para ver o coração bater. Isso me deixou feliz! Daí, acenei! Minha mão dizia adeus... Adeus às sombras, ou às sobras... Ou, à Deus, tudo que nada sou!