Venda da Cruz: uma questão de gênero
Crônica II
(Por Erick Bernardes)
Nosso município possui lugares variados caracterizados por nomes de pessoas, rios, praias, estações de trem, enfim, nada que cause estranheza na configuração de São Gonçalo. No entanto, ver nascer um bairro por causa de um simples mercado, armazém, quitanda ou venda, conforme os comércios eram chamados antigamente, ah!, isso sim é digno de explicação.
Houve, lá para os lados de Neves, Covanca, Barreto, quer dizer, pertinho do Largo do Barradas, um senhor muito empreendedor chamado Antonio Luís da Cruz. Bem, o leitor sagaz já matou a charada e entendeu que a Venda da Cruz tem a ver com o vendeiro Antonio, não é?
Isso mesmo, o que não dá para intuir é o real motivo de ter mudado de “do” para “da Cruz”. Sou da opinião que brasileiro tem mania de transformar tudo em substantivo feminino pra produzir sonoridade. Eu, hein, coitado do seu Antonio Luís da Cruz (ou será “do Cruz”?). Logo ele que conseguiu usar de influência política e trazer o trem até as redondezas. Esperto, claro que o escoamento do seu comércio merecia transporte eficaz. Homem importante esse seu Luís do Cruz.
E, assim, o armazém “do” senhor vendeiro teve seus tempos de transformismo. Está aí, Venda da Cruz, travestido e registrado, enfim, com nome de bairro. E cá entre nós, registro muito mais charmoso no falar.