Minha vida fútil
Tenho observado que minhas necessidades não são minhas; tenho me cercado de adereços, de recursos, de ornatos que não enriquecem meu espelho, tenho observado que tenho me exposto à visitação pública.
Tenho me dobrado às críticas, que sugerem me fazer maior, como se eu quisesse crescer; tenho dado tanta importância ao que pensam, ao que veem, numa clara tentativa de me tornarem o perfil do ideal comum.
Eu estou me transformando no sinônimo de: convencional, padrão, estereótipo; eu estou sendo moldado para ser o plano piloto.
Meu celular tem 64 pixel, ou megas, ou gigas,ou 4Ks, ou tem tudo isso? Posso até nem saber o que tudo isso significa, mas meu celular tem. Minha televisão tem 4 K, confesso que não sei o que fazer com todos eles; quando eu era criança minha televisão tinha 4 canais, tinha verticais e horizontais, nunca vi K na minha antiga televisão; e se vi, nunca percebi.
A cada novo dia meu filho me conta uma nova especificação existente em meu computador, que eu já tenho há 4 anos, e nunca soube desse recurso que ele carrega.
Tenho tênis para caminhadas, para corridas, para passeio, e para tirar, quando meus pés doem; eu, que tenho andado tão pouco.
Com tanta tecnologia que me cerca, com tantos recursos que possuo, com tantas perfeições que os outros olhos enxergam em mim, acredito que deveria ser mostrado em museu, ser o centro de estudo de uma universidade, ou o modelo de homem do amanhã, mas como não sei para que servem, ou como utilizar tantos benefícios, que a modernidade me impingiu, eu continuo sendo apenas o Beto para mim, pois todos me projetam como Roberto