Rui e o Ferrete de Pilatos
NÃO RECORDO do nome do livro, sei que era de autoria do grande jornalista Hélio Fernandes. Nesse livro ele narrava seu exílio forçado em Fernando de Noronha, de terminado pela ditadura militar. Nas recordações e divagações ele refletia sobre as arbítrio e também sobre a cumplicidade e covardia de alguns membros do judiciário. Num trecho, para ilustrar, ele citou parte de um discurso ou escrito de Rui Barbosa:
"De Anás a Herodes o julgamento de Cristo é o espelho de todas as deserções da justiça, corrompida pelas facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a sua incoerência, a sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continuam a crucificá-lo, ainda hoje, nos impérios e nas repúblicas, de cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica. Foi como agitador do povo e subversor das instituições que imolaram Jesus. E a cada vez que há precisão de sacrificar um amigo do direito, um advogado da verdade, um protetor dos indefesos. um apóstolo de ideias generosas, um confessor da lei, um educador do povo, é esse, a ordem pública, o pretexto, que renasce, para exculpar as transações dos juízes tíbios com os interesses do poder.Todos esses acreditam, como Pôncio, salvar-se lavando as mãos do sangue que vão derramar, do atentado que vão cometer. Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer que te chames, prevaricação judiciária, não escaparás do ferrete de Pilatos. O bom ladrão salvou-se. Mas anão há salvação para o juiz covarde".
Rui era um profeta.E priu. Inté.